Todos os dias, há 15 dias, antes de dormir, eu faço ioga. Tá e daí?
Eu sou mãe de um bebê de 1 ano e 25 dias. E para mim, fazer exercícios físicos com alguma regularidade é uma vitória.
Engravidei aos 32 anos e 77 quilos e vestindo o tamanho 44-46, ou seja, eu era uma mulher gorda e me identificava como tal.
Um parêntesis, nunca fui magra, sempre estive alguns quilos a mais do que o meu IMC permitia e sempre fui muito cobrada por isso, tanto pela minha família, quanto pela sociedade. Já fiz inúmeras dietas e nunca consegui emagrecer, até conhecer o movimento body positive e o @movimentocorpolivre, quando passei a me aceitar melhor como sou.
Eu tive hiperêmese gravídica e diabete gestacional. Ao longo da gestação, fiz uma dieta extremamente restritiva, porque meu sonho era levar a gestação o mais longe possível e tentar um parto normal sem indução. Consegui! Minha filha nasceu com 3.600 gramas às 39 semanas e 6 dias.
Passada uma semana do parto, fui me pesar na consulta de retorno com a obstetra e eu estava pesando assustadores 60 quilos. Eu, que passei metade da minha vida brigando com a balança, agora retornava ao peso que tive aos quinze anos.
Não me reconheci… Sentia-me estranha, física e emocionalmente, e passei por um puerpério complicado.
Lembro-me de me olhar no espelho e tirar fotos de mim. Eu ficava pensando: “que pernas magras são essas? E que barriga flácida, murcha, com um baita umbigão no meio! E os seios, antes P e agora GG! Sensíveis, doloridos, machucados” – eu tive (e tenho) o fenômeno de Raynaud nos seios. O semblante estava cansado e abatido. A cara encovada, sem bochechas… Eu parecia doente. Só que eu não estava doente, eu só me tornei mãe.
Quinze dias depois do nascimento da minha filha tive uma contratura muscular, após ficar vários minutos abaixada trocando sua fralda… A solução? 20 sessões de fisioterapia e musculação! Eu que detestava academia tive, por obrigação médica, que começar a malhar.
Após inúmeras tentativas e ligações frustradas, encontrei uma única academia na minha cidade que permitiu a presença de uma mãe com um bebê… E olha que a minha filha ficava somente no bebê conforto, durante a uma hora de aula.
Só o fato de conseguir ir à academia já era um baita privilégio – tempo, dinheiro e apoio são verdadeiros tesouros para uma mãe. Eu ia no “horário da herdeira” às 10h ou 15h e levava a minha bebê e o meu marido, que malhava junto comigo.
Fiz academia por árduos 4 meses, até o meu retorno ao trabalho.
Durante esse tempo, me via de corpo inteiro no espelho gigante por uma hora, três vezes por semana. Passei semanas me olhando, ainda com a sensação de estar vendo um E.T., mas com o tempo, passei a me reconhecer em meu corpo, gostar dele.
O medo de parecer magra demais, feia demais, gorda demais, fraca demais, parecia ter se afastado, mesmo que momentaneamente. Até que voltei a trabalhar e parei de ir à academia, óbvio. Faltava tempo, disposição, dinheiro, rede de apoio… Sobrava desesperança.
Fiquei meses triste, abatida, comecei a sentir dores e mesmo com acompanhamento nutricional e psicológico (mais dois privilégios) voltei a engordar…
Até que, após uma franca conversa com minha psicóloga, decidi que ia voltar a fazer ioga. A ioga tinha sido uma grande parceira nos meus anos mais sombrios de depressão e agora, eu recorria a ela como novamente aliada, para combater os meus novos sintomas e incômodos.
A prática é fácil de fazer, pois não preciso trocar de roupa, calçar sapatos ou sequer sair de casa… Coloco meu colchonete no chão e acesso ao canal da @prileiteyoga no YouTube e pronto!
Topei me desafiar a fazer 20 dias de exercícios ininterruptos. Até o momento, consegui praticar por 15 dias.
Minha filha dorme na nossa cama compartilhada, aí eu estendo o tapete no chão e me alongo entre assanas e mudras e me perco entre (res)pirações e pensamentos.
Uma dica útil para mim: eu amamento minha filha deitada, mas para não cair na tentação de ceder à exaustão e adormecer, eu não escovo os dentes ou não tomo meus remédios, então sou obrigada a levantar e sair da cama para fazer essas coisas. Uma vez fora dela, eu crio ânimo e vou para o tapete.
Ao longo desses 15 dias, tive outra contratura muscular e estou checando a saúde das minhas cansadas costas com um ortopedista (vou precisar de um raio-x). Também fiquei doente, com febre e dor no corpo, mas resolvi insistir assim mesmo.
Dos 6 quilos que ganhei ao longo de 4 meses, perdi 2 quilos (com a dieta e com a ioga). Mas o engraçado é que os quilos perdidos não estão me importando tanto. Engraçado né?
Na ioga (re)encontrei rotina, reencontrei meu corpo, minha consciência. Encontrei capacidade.
O que me moveu a escrever este texto, inclusive, é que me peguei pensando, durante a prática de hoje, que eu sou capaz.
Eu consigo ter um parto normal.
Eu consigo amamentar (algo que para mim foi particularmente difícil).
Eu consigo ser mãe.
Eu consigo trabalhar e ser uma boa profissional.
Eu consigo fazer 10 minutos de ioga por dia.
A ioga só me mostrou isso.
E eu sigo feliz, entre assanas e mudras!
Rumo aos 20 dias.
Por Marcelle Rodrigues Silva – @maenamoda_