Por: Claudia Cristina de Oliveira Pereira
Se você tem um passado como o meu (ou algo parecido com), numa família patriarcal (com uma mãe submissa que dava conta de tudo, menos de ter tempo para ela mesma), morando em casa de aluguel, cujo pai nunca teve carro e estudando a vida inteira em escola pública, talvez se reconheça no meu relato.
Sempre fui uma pessoa tranquila, “centrada” (acho que quem me conhece me descreveria assim). Muito estudiosa, notas altas, mas, socialmente, quase um bicho do mato! Os estudos me deram grandes oportunidades não só em termos de conhecimento mas, também, de grandes amizades, além dos lugares por onde viajei participando de congressos, seminários, cursos e etc.
E, quanto mais você adentra na vida adulta, a ampliação de consciência que a maturidade nos possibilita, também nos traz muitas desilusões. Os “castelos” (de areia, é claro) construídos durante as primeiras fases da vida vão se desmoronando um a um, nem sempre, de forma tão suave como quando o vento sopra levando grão por grão pelos ares…
Dentre essas ilusões, eu, formada em Pedagogia, professora por profissão e dedicação, mestre em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência (sim, na infância e na adolescência – a vida tem as suas pegadinhas…) achava que todo o conhecimento adquirido durante toda uma vida de estudo – somado a minha personalidade dócil e tranquila, seriam suficientes para que eu criasse meus filhos numa boa.
Eu “achava”, de verdade, que bastaria aliar a teoria ao amor materno para dar conta de educar meus meninos. Mas, um dia, o vento soprou e derrubou – com a fúria de um tornado – meu castelo de ilusões! Quando acordei – depois de muitos meses rodopiando no tornado da vida – me vi com dois lindos meninos sapecas e divorciada! Sim, o casamento que era tão perfeito ruiu num piscar de olhos (com um cabelo longo e um corpo magro de 20 e poucos anos).
Os filhos tão desejados e planejados depois de 7 anos de casados, trouxeram uma realidade para a qual ninguém estava preparado! (pelo menos nós não estávamos). Na falta de um, tive dois filhos com alergia a proteína do leite de vaca, ovo e soja. Todos os cuidados e neuras “normais” de uma mãe se quintuplicam quando se depara com uma séria restrição alimentar.
Trabalhando fora de casa por meio período, e no restante, se dedicando aos cuidados de dois pequenos, comendo canjica pra “fortalecer o leite” e amamentar (porque mãe que não amamenta não é mãe de verdade, não é mesmo?! #sqn), acumulando muitos quilos, a vida materna me engoliu! Ressalva a ser feita com grande gratidão: SEMPRE tive o auxílio da minha imaculada mãe (sim, aquela submissa a qual me referi no início do texto!), que cuidou – e ainda cuida – dos meus filhos para que eu pudesse trabalhar fora!
Como muitos relatos espalhados por aí, a maternidade não é para as fracas! As demandas de filhos reais, cujos impulsos e características desde muito cedo já mostram que a “brincadeira é séria!” fez com que eu mergulhasse de cabeça nesse mundo, buscando fazer o meu melhor, com toda a teoria adquirida nos bancos da escola. E, no “auge” dos meus 36 anos, eu que trabalho com Educação Especial e lido com tantas crianças com “problemas reais”, me deparei com um sentimento que desconhecia: a frustração!
Depois de muitas sessões de terapia (que passaram a fazer parte da minha vida após o divórcio) descobri que sou (ou será que estou?!) uma mãe frustrada. Quando as coisas fogem do nosso controle e não sabemos como lidar, a gente se frustra mesmo! Se frustra porque o filho do “universo inteiro” dorme a noite toda desde o primeiro mês de vida, enquanto o seu caçula já te fez acordar 15 vezes numa única madrugada e desde que ele nasceu você nunca mais teve uma noite decente de sono.
Se frustra porque seus filhos adoecem com mais frequência e os olhos julgadores da sociedade sempre tem a “receita ideal”. Se frustra por estar sozinha numa jornada que você planejou numa “parceria” e que se desfez no início da caminhada. Se frustra porque vê nas redes sociais as fotos lindas e felizes de tantos amigos e amigas curtindo a vida com seus filhos, enquanto a vida aqui não tem tantas cores assim.
Carrego comigo a frustração de não saber o que fazer em muitos momentos, mas acredito que todas nós nos sentimos assim em algum momento, não é mesmo?! Meus filhos são crianças comuns (com 3 e 4 anos), arteiros, cheios de alegria (e birras) e muita vida pulsando em seus corações! E eu sei que crianças são assim mesmo! Mas as ilusões que alimentei durante anos a fio, hoje vão se desfazendo uma a uma, deixando-me num mar de incertezas.
Não me arrependo dos filhos que tive…me arrependo das ilusões que criei, da consciência que me chegou muito tarde sobre muitos assuntos da vida adulta, das dores pelas quais passei cujos motivos não me dei conta antes. Mas, sigo buscando fazer o melhor que posso a cada dia.
Para mim, a sensação que carrego é de não ser suficiente! Sempre fica a sensação de que poderia ter tido mais paciência, ter contido o grito, ter evitado a bolacha (que foi a válvula de escape para ter um minuto de paz!). Enfim, há sempre motivos para ser melhor. Se hoje não consigo, me esforço para um dia conseguir!
Todos me dizem que “isso passa”, to esperando passar!