Mulheres-mães protagonistas da própria história

Mães de adolescentes: Será que não somos mais suficientes?

Mães de adolescentes: Será que não somos mais suficientes?

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O “trator” da adolescência está passando. Eu tinha certeza que quando chegasse a minha vez tiraria de letra. Às vezes, conversando com outras mães eu as acalmava, sempre dizia “vai passar”, ou “eles são assim mesmo”.

Sabemos que vai… Já passamos por isso, mas enquanto o tempo não passa e a maré não se acalma, sofremos pelas escolhas dos filhos, sofremos porque não existe controle da situação, sofremos por causa dos hormônios – por aqui, o dia tem variações -. Tem dias que o bom humor paira na casa, existe diálogo, acolhimento com os irmãos e ajuda. Agora tem dias que só por Deus!

Nada agrada, o bom dia parece doloroso e as tarefas de casa parecem sessões de tortura, diálogos são iniciados, porém, não concluídos, uma vez que o adolescente não tem o menor interesse em ouvir sua voz.

Ao término do dia eu me pergunto: E agora?
Será que fiz certo?

Onde está aquela criança que dependia de mim para tudo? Que segurava minha mão para dormir? Que falava como uma “matraca louca” nas viagens de carro e que sempre repetia a frase: “Mãe eu te amo”!

A certeza que temos quando o filho é pequeno é de que ele não sairá de nosso controle, sabemos onde está, o que come, que horas precisa dormir e percebendo o silêncio, notamos imediatamente algo de errado.

Uma mãe consegue ver a febre chegando, reconhece pelos traços da feição a arte que o filho aprontou. E uma mãe é capaz de levantar no meio de um sono pesado porque o filho espirrou.

Os anos passam, a distância natural chega, eles desejam não mais estar nos almoços de domingo e muito menos nas viagens de férias. O quarto que antes tinha a parede colorida e brinquedos espalhados, agora prevalecem os tons neutros, skates no chão, e claro, o computador ligado. Por aqui, se eu permitir e não for “a mãe surtada”, as portas e janelas passariam horas do dia fechadas.

Nos últimos dias tive total certeza da nossa nova fase, meu discurso não convence mais. Não posso ir pela força, não posso trancar em casa e esperar passar, só posso olhar, tentar conversar e esperar.

Esperar porque o que tinha para ser transmitido em questão de valores já foi. Esperar, pois nossos afazeres são diários e a real maternidade é exaustiva. Todas as tarefas do dia a dia estão aí, e precisamos equilibrá-las como que numa apresentação circense.

Agora os sentimentos são outros, dias de alegria e convicção, pois o crescimento faz parte do processo. Dias de pura raiva, porque não é possível. Dias de espera. Espera de uma ligação, de um retorno, de uma decisão e espera do tempo.

Já li muitas vezes que o tempo é o melhor remédio, que ele apaga os males e mantém na memória somente o que nos agrada. O que nunca li é sobre como passar por esse tempo, como agir enquanto os filhos estão na zona cinzenta dos hormônios, como dormir sem a forte sensação de incompetência materna.

O sentimento é tão único que ninguém saberia descrever, tão único que somente uma mãe será capaz de ler e respirar fundo agora, somente uma mãe terá condições de imaginar a sensação.

Sensação de que um trator está limpando minha casa, fazendo barulho o dia todo, sujando o lugar, ouvindo música alta e andando como se não fosse terminar a obra, sensação de que neste momento eu não sei o que é melhor, pegar as malas e fugir, forçar ir comigo, ignorar ou ceder.

Nesse tempo de mudanças e reformas, minha busca é encontrar aquelas que estão com a casa também em obras, e tentar de forma simples encontrar em longos diálogos e cheias taças de vinho o refúgio necessário para atravessar.


Autora: Fabiana Matos.

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