Como ajudar os bebês órfãos do COVID-19

Como ajudar os bebês órfãos do COVID-19

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Em plena Semana Mundial do Aleitamento Materno, a mais importante do Agosto Dourado, atendi uma bebê órfã nascida há pouco mais de 20 dias. Prematura de 32 semanas, foi tirada às pressas da mãe, cujo quadro de contaminação por COVID-19 se agravara, necessitando de intubação. O sofrimento já começou aí. Tudo tem a hora certa e, definitivamente, ainda não era hora dela nascer. Não estava pronta.

O bebê quando nasce se vê diante de uma infinidade de luzes, sons, cheiros, imagens, pessoas e muito espaço. Estímulos com os quais não está acostumado. Ali, na sua antiga “casinha” que era o útero da mãe, tudo era muito diferente. 

A natureza o prepara por 9 meses para esse momento difícil, amadurecendo cada órgão em uma ordem mágica de prioridade. Um bebê que nasce prematuro é pego de surpresa com esse parto antes da hora. Não bastasse isso, precisa ir para a Unidade Neonatal, separado da mãe, sua única fonte conhecida de segurança. Ali passará por muito estresse e dor. 

A mocinha da história, precisou ser entubada também. Furada, alimentada artificialmente, mantida em inúmeros aparelhos que garantiram sua sobrevivência. Sua mãe não resistiu. Ontem a conheci nos braços da avó materna, uma senhora de olhar triste que, num intervalo de poucos minutos, perdeu o marido e a filha.  Agora, além de avó, é mãe de duas: a bebê e a irmãzinha de 2 anos. Se uniu ao genro no luto, mas contou que ainda nem tiveram tempo para chorar a perda de seus amores. 

O que podemos fazer para ajudar essas famílias? Trago aqui sugestões de como minimizar as dores desses bebês, que não poderão ser amamentados por terem perdido a mãe, seja por COVID-19 ou qualquer outra doença:

  • Todo bebê precisa de colo. Um bebê que não encontra o cheiro da sua mãe depois que nasce precisa muito mais! É no conforto de um colo que encontrarão a segurança necessária para enfrentarem esse mundo tão diferente. 
  • Não nascemos pai e mãe. Nos tornamos, na medida em que nos vinculamos e construímos laços com o bebê. Nada melhor para propiciar esse vínculo que o contato pele a pele. Pai, avós, tios, irmãos mais velhos, todos que forem cuidar desse bebê podem fazer essa prática. Vocês devem colocar o bebê de bruços, só de fralda sobre o seu tronco nu. Posicione a cabecinha de modo que ele ouça o seu coração. É um som que ele ouvia na barriga e isso o fará sentir-se em casa. Aqueça-o com seu corpo e jogue um cobertor sobre as costas dele para garantir que não sinta frio. 
  • Os bebês se sentem bem quando estão apertadinhos, pois era como viviam. Faça o charutinho com a manta, use o sling. Para mim não há nada como o sling para prover um bom desenvolvimento corporal e emocional, pois é como um útero fora da barriga. O bebê fica quente, apertadinho, em contato íntimo, ouvindo o coração e é embalado quando a pessoa se move, o que também acontecia quando a mamãe andava durante a gestação.
  • Outra coisa que adoram é meio líquido, pois viveram nele. Apesar do banho de higiene ser recomendado só uma vez ao dia, os banhos de ofurô, sem sabão, são uma maneira excelente de trazer a esse bebê calma e conforto. Prepare o ambiente diminuindo a luz, garanta uma temperatura adequada do local e da água.  Banhos de chuveiro, agarradinhos no adulto, são recomendados também.
  • Nutrir esse bebê deve ser uma prioridade. Use a fórmula indicada pelo pediatra nas quantidades recomendadas. A mamadeira precisa ser adequada à idade do bebê. Há bicos para recém-nascidos e devem ser trocados à medida que o bebê cresce. Cada fabricante tem sua graduação de acordo com a idade. Siga-a e nunca aumente o furo. Mesmo com os bicos corretos, o fluxo da mamadeira é muito maior que o do seio materno e o bebê precisa exercitar a musculatura oral, necessária para as funções de mastigação e fala futuramente. Posicione sempre o bebê na vertical e a mamadeira na horizontal. Faça pausas para ele descansar e alcançar a sensação de saciedade. Não tenha pressa. Nunca oferte a mamadeira com o bebê deitado, pois isso aumenta as chances de engasgos e dores de ouvido.
  • Alterne os lados em que o pega no colo para mamar, proporcionando mais experiências sensoriais a ele. Isso ajuda no seu desenvolvimento. Não seria assim no peito? 
  • Fale carinhosamente com o bebê, cante para ele. O bebê precisa dessas interações para se sentir acolhido, pertencente ao núcleo e desenvolver apropriadamente a fala.
  • Use e abuse da Técnica dos 5S, idealizada pelo pediatra americano Dr. Harvey Karp: Swaddlind (enfaixar, enrolar no charutinho), Side-laying (deite-o de lado no colo, costas contra sua barriga), Shushing (calar por meio de som chiado, feito com a própria boca ou reproduzindo sons de útero disponíveis na internet), Swinging (balançar, andar com o bebê simulando o movimento que havia quando a mãe se movia com ele na barriga) e, por fim, o Sucking (sugar o dedo do adulto enluvado ou mesmo uma chupeta).
  • Como não será amamentado, a chupeta pode ser usada para satisfazer parte da necessidade de sucção do bebê. Mas, reforço que nunca deve ser ofertada para bebês em aleitamento materno. Mesmo para esses casos que tratamos aqui, a chupeta deve ser oferecida com muito critério, pois apesar de não representar risco de recusa do seio, seu uso prolongado traz uma série de malefícios para o desenvolvimento ósseo, dentário, muscular, respiratório e também para a saúde em geral, pois é uma fonte de contaminação. Deve ser o último recurso na lista de coisas para acalmar o bebê. Nunca a deixe no berço ou à disposição. Dormiu, acalmou? Retire e guarde apropriadamente.
  • Cuide de si mesmo! Essa é a regra de ouro para quem quer cuidar de alguém. Não é só o bebê que está sofrendo a ausência de alguém amado. Respeite seus limites e procure ajuda, se necessário. A essas famílias já tão sofridas, não pode faltar mais ninguém!

Autora: Anna Helena Brito, Fonoaudióloga, Consultora em Aleitamento Materno, esposa e mãe de dois. Insta: @annahelenabrito.fono.

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