Mulheres-mães protagonistas da própria história

Apenas um desabafo – Por: Camilla Amorim

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Realmente, eu tô doida! Eu tô vivendo no meu limite há tempos, eu tô empurrando com a barriga a minha vida, a vida do meu filho, meu relacionamento, minhas amizades. Eu tô vivendo um looping eterno, todo dia é a mesma coisa, não dorme direito, levanta cedo, não tem tempo pra comer, não tem tempo pra fazer comida, o filho dorme, que glória, um tempo pra mim! Mas não, um tempo pra tirar a poeira da casa, passar pano, lavar, limpar, e muitas outras tarefas de casa, pois tem um bebê aqui a casa tem que estar pelo menos em mínimas condições de limpeza, quando lembro que tenho que comer, preparar algo para comer…

O bebê acorda e minha prioridade volta a ser ele. Eu já fico pensando no que vai dar tempo de fazer no próximo cochilo será que consigo um tempo pra mim?! Pra faculdade? Pra refletir? Pra descansar? Bom, não! Quando tenho um tempinho, logo penso em terminar a arrumação, volto a cozinha, ponho as roupas pra bater, lembro que ainda não comi nada e o dia ta passando, faço alguma coisa ou como algo pronto quando tem, o bebê já acordou de novo! Puxa!!! Só um cochilinho mesmo… Vamos lá, de volta a prioridade inicial.

O dia vai passando, entre fraldas e mamadas vai entardecendo, o bebê continua aqui nos meus braços, por uns minutos no carrinho, e pouquíssimo em qualquer outra superfície. Ainda tenho uma lista de coisas pra fazer que não consigo fazer com o bebê, quem sabe no próximo cochilo rola né… Mas não rolou, eu precisava ir ao banheiro, comer mais alguma coisa, fazer um chá pra acalmar e nisso lá se foi mais um cochilo do bebê, perdi mais um pouco do tempo “pra mim”, os trabalhos da faculdade estão todos em atraso, o projeto que comecei continua lá, parado!

E a minha vida vai seguindo, arrastada. Em quatro meses de puerpério eu ainda quero sumir e fugir dessa nova vida. Mas, não posso reclamar, é absurdo, eu acabei de ter um bebê forte e saudável, tenho que valorizar a vida dele e agradecer por isso e, sim, eu agradeço à Deus imensamente por este presente, mas sim, também estou achando difícil a adaptação à nova demanda que essa mudança me trouxe.

Em suma, tem horas que só quero sumir e não ter que me adaptar a nada dessa nova vida, o que não vai acontecer, já que obviamente, não consigo me afastar nem física e nem psicologicamente do bebê, com o tempo tenho certeza que vai ficar suave, que vou olhar para dentro de mim, que vou ter tempo de me cuidar, sei que vou sentir saudade de toda essa dependência, mas ainda está muito pesado, não é só sobre ” ter um bebê ” é sobre continuar sendo você e “cumprindo suas obrigações” com um bebê.

É sobre perder sua liberdade totalmente, chorar por não se sentir capaz de assumir tantas funções, é sobre o lado B da maternidade. Sobre estar física e emocionalmente cansada e ser julgada como quem “não faz nada”, ahhhh como eu queria que ficar em casa com o bebê fosse sinônimo de não fazer nada! É sobre a parte punk mesmo, sobre a solidão da maternidade, em meio a uma multidão ser só você e o bebê, sobre o acumulo de tarefas, sobre o cansaço de ser mãe.

 

Autora: Camilla Amorim

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