Guiar um ser humano na Terra, enquanto aprendo e materno a mim mesma,
é um ato de coragem tão imenso quanto invisível.
Nesse entrelaçar de amor e exaustão, de doação e desamparo,
entre o grito dado e o grito contido,
minhas sombras — e aquilo que ainda não encontrou voz, nem cura — surgem, cruas, bem diante dos meus olhos.
“Quem me acolhe enquanto acolho?”
Ninguém responde.
Agora, eu sou o colo.
Sou o silêncio.
Sou a resposta.
Será que vou dar conta?
Ninguém responde.
Conto causos, memórias, silêncios.
Conto os minutos, as horas, os dias que se acumulam.
E conto histórias…
E, no fim, sem perceber, já estou dando conta de novo.
Eu simplesmente levanto mais um dia e vou.
Vou, catando as migalhas de quem um dia fui,
tentando entender quem agora sou,
limpando o choro de cansaço…
e vou.
Porque, afinal, ser mãe deve ser isso: dar conta.
Das vidas ancestrais não resolvidas dentro de mim.
Da minha vida, tão velha e tão nova ao mesmo tempo.
E da vida que coloquei no mundo.
Tenho que dar conta das minhas partes que ainda precisam ser amadas,
enquanto amo outro como nunca antes.
Tenho que dar conta de aprender a cuidar de mim mesma, mesmo quando meus pedaços se misturam com a vida que vejo agora fora de mim: a nova vida que pari.
E, vivendo e chovendo no molhado, sigo.
Caminho como um grande clichê.
É isso que sou.
É isso que somos.
E sou o quê, mesmo?
Acho que Mãe.
Acho que Mãe cansada.
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Débora Rodrigues / @umolhardemorado_





