Você conhece a cena: mãe grita de longe chamando os filhos, que não atendem.
Eu já me vi assim. Frustrada, sentia que minha voz se desgastava, literal e metaforicamente. Então mudei a forma de agir: Paro, vou até eles, abaixo e olho nos seus olhos, dizendo “Vamos fazer assim? Eu vou tentar te escutar e você também precisa me ouvir. Quando sinto que não sou escutada fico chateada e isso faz mal pra nós. Vamos fazer diferente?”. Eles podem também falar o que querem e sentem.
Criamos um combinado, que chamamos de “eu te escuto e você me escuta”. Foi importante envolvê-los nesse pacto, trazendo consciência e responsabilidade pela relação, desde que tenham maturidade para entender esses conceitos.
Faz toda a diferença supor na criança um sujeito capaz de ouvir e se fazer ouvir. Nunca é muito cedo, nem muito tarde para sair do automático, começar a escutar o outro
É importante também me saber digna de ser ouvida. Perceber a mim e a nossa relação como merecedora de atenção especial. Isso exige uma prática de auto-observação empática, de considerar os próprios sentimentos. É mais fácil estar abertos à conexão real com as necessidades do outro quando também estamos atentos às nossas próprias
Vai funcionar toda vez? Provavelmente não. Há momentos em que estamos indisponíveis para fazer uma escuta de qualidade. Quando não consigo ouvir meus filhos prefiro deixar isso claro. Quero que sintam que o que têm pra dizer merece atenção e, se na hora não posso dar atenção, logo poderei. É importante que percebam quando estão sendo de fato escutados
Escutar os filhos não significa atendê-los em tudo. Tem mais a ver com estar presente do que com satisfazer. O simples ato de voltar-se à criança, legitimando o que precisa, já pode ser transformador
“Escuta”, aliás, é um termo interessante. Diferente do olhar, permite captar as sutilezas da subjetividade, sem passar tanto pelas lentes dos nossos conceitos ou opiniões.
Vale aprender com a escuta psicanalítica essa postura de abertura, de desaprender o que achamos que sabemos sobre o outro para ouvi-lo de fato. Porque mesmo com nossos próprios filhos podemos nos surpreender se aceitarmos deixar de lado nossas certezas.
Autora: Elisa Motta IunganoPsicóloga, psicanalista especializada em mães e crianças e mãe de três filhos.@entrelacespsicologia.