Escrevo, escrevo e apago

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Escrevo, escrevo e apago! Escrevo e apago novamente. Desisto de escrever, de me posicionar, de falar da minha dor. Sabe por quê? Medo! Medo de ser julgada, porque se falo de dor tem um monte de gente que vai entender que não há amor.  Medo! Medo de que falar a verdade motive ações de “punição” que atingirão quem? A minha filha!  Medo! Medo de ser injustamente rotulada de louca, infeliz ou… “a que não aceita o fim de uma relação”.

É isso que vim contar para vocês. Mulheres como eu, que são mães solo e amam intensamente seus filhos. Mães que não podem aceitar aquele trabalho porque é a noite ou aos fds e não tem quem fique com a criança (claro, porque ela é a única responsável). Mães que não sabem o que é fazer a unha, ir à academia ou mesmo comprar roupas novas (ou porque não sobra mais grana – vai tudo para o BB – ou porque não sobra mais tempo, afinal, se o BB está na escola você​ está trabalhando, limpando, cozinhando, lavando… e se não está na escola, está com quem? Já tentou experimentar roupas com um bebê no colo?).
Mães que nunca mais beberam aquela cerveja, fumaram aquele cigarro sem pensar em porra nenhuma e passaram o dia seguinte todinho de ressaca sem horário para levantar – Me recuso a falar do básico: cagar, comer, banhar e escovar os dentes. Você faz isso todos os dias? Quando precisa ou tem vontade? Caralho! Deve ser incrível! – Mães que amam abraçar seus filhos, dar colo, beijos e amam mais ainda receber tudo isso deles… Mas, que adorariam receber um abraço de alguém da sua idade, entende? E quem sabe assistir um filme de conchinha… Uauuuu!!! Mas elas não podem, elas literalmente não têm tempo! Elas não conseguem achar esse horário na agenda e, se conseguem, eventualmente, algo do tipo… O que são? Me digam pessoas de moral e bons costumes? VADIAS! Irresponsáveis, provavelmente logo estarão arrumando filho de outro Ómi! – Aliás, pobres homens! Aliás, se eu disser que tem homem por aí dizendo que não pode ter filho e engravidando mulher, alguém vai acreditar? Mas peraí, por que ela não usou camisinha? Mas peraí! Quem veste a camisinha não é o cara? Mas peraí! Deixa pra lá…

Vamos voltar as mães que amam muito, muito mesmo seus filhos e os criam com o maior amor do mundo, mudam suas vidas totalmente, não fazem mais nada, absolutamente nada sem pensar neles antes. Essas mães que se emocionam com um jeitinho diferente que o filho levantou a sobrancelha e que choram como se fosse a morte quando eles dão uma raladinha no joelho. Essas mães aí, podem tudo isso, só não podem se inconformar, revoltar e não achar justa a situação que vivem com seus filhos. Ou até podem, mas falar? Jamais! Sabe porquê​?
Porque, primeiro – “Que feio expor a situação dessa forma!” – Minha gente! Que culpa temos se a situação é feia? A vergonha é de quem a protagoniza e não de quem não a esconde!

Segundo, o medo… Aquele que eu falei no início! Então, a mãe que cria sozinha, que abre mão de tudo, que tentou manter o contato amigável pelos filhos… Até que desistiu e entendeu que ninguém sente falta do que nunca teve, ou ainda, que mais vale um pai ausente do que um filho negligenciado… Bem, essa mãe tem medo de que o “papai pop” se ofenda por ela simplesmente falar a verdade e o quê? Receba uma mensagenzinha de texto do digníssimo, que ressurge feito Fenix das cinzas, a informar que vai pegar o filho tal dia! (Não preciso dizer que tal fato é apenas para contradizer o que a mãe anda contando por aí, não há preocupação nenhuma com o mais interessado nessa história, o filho! Sim! Ele existe! Tem sentimentos, medos, precisa de segurança…) E o medo do que ela sabe que vai acontecer (não, ela não é vidente! Eles que são previsíveis e possuem comportamento repetitivo), assim como ressurge das cinzas, desaparecem nelas e… Mais um sofrimento para a criança!

Sim, minha gente, não é tão simples assim, tem processo, advogado, briga pra caralho e provavelmente o cara não vai pegar a criança. Primeiro porque não quer, é só para causar mesmo, logo cansa da brincadeira e desaparece de novo. Segundo, porque provavelmente não consiga provar que tem condições para isso, de fato, não têm! Não sabe! Não sabe nem o que come uma criança! – Tá aí uma sugestão de tema para o Globo Repórter, “Crianças, onde vivem? O que comem? Do que precisam?” – Ou… Como o Ómi se sente poderoso? – “Vou cortar a pensão! Vou diminuir o valor!”

É claro! Ela precisa dessa grana, mas não para o que o pai acha que ela precisa – eles juram que sustentam vagabundas, mas não sabem quanto custa a escola, convênio, remédio, roupas… Roupas! Eu não sei quanto eu já gastei em roupas e esse nosso clima não ajuda! Minha filha tem 9 meses, em nove meses eu precisei de guarda-roupas completos, frio, friozinho, frio do Alasca, abafado, quente, meio quente, meio frio, calor dos infernos… Tamanhos RN, P, M, G, 1e já estamos comprando tamanho 2 (sim! Minha filha é grande e gorduchinha). Produtos de Higiene, frutinhas, carninhas, verduras.
Horas de trabalho que você não “trabalha”, por tanto , não recebe, para cuidar e criar o filho. O curso que você não faz, a faculdade que você tranca o que impede que você consiga melhores empregos… Sem contar todo o resto, cadeirão, cadeirinha, penico, mamadeiras, copos de bicos x, y, z, livros… Sim! Criar filhos envolve coisas que só quem está ali, junto, no dia a dia, sabe. São brinquedos, passeios, parques, teatro, museus, encontros, gasolina, ônibus, pedágio… Precisa de tudo isso? Não sei! A minha filha precisa e acredito que todas precisem. E assim, essas mulheres se calam, essas histórias são ignoradas, suas dores são banalizadas e o abandono é normalizado e aceito pela sociedade! As crianças são desprezadas e sua dor relativizada. Ela vai superar! Claro que vai! Só não deveria ter que superar merda nenhuma! Mas sim, vai! Caros, a não aceitação dessas mulheres não é a respeito do Ómi que tinha um caso e assumiu outra relação com outra mulher!
Isso, a maioria, uma hora ou outra, entende como livramento! A não aceitação é sobre a não paternidade, é sobre a injusta diferença entre o que se cobra e espera de uma mãe e o que se cobra e espera de um pai. A dor é olhar para o rostinho do seu filho, aqueles olhos lindos e puros, aquele sorriso sincero, aquela vida maravilhosa que só vibra amor, afeto e bondade e imaginar aquele coração tão lindo se machucar por não entender a rejeição de um pai (não tem como entender mesmo! Nem tente explicar!).
E desculpem se me prolonguei! Tenho regulado minhas palavras por medo de tudo que já expliquei, mas a chegada do dia dos pais trouxe a tona sentimentos adormecidos e eu precisei vomitar por aqui. Sou uma dessas mães, das que ama pra caralho e que nunca, jamais, será capaz de entender o cara que abandona um filho seja afetiva e/ou financeiramente. No mais, quero desejar, antecipado, um feliz dia dos pais aos pais que fazem a sua parte, que sustentam e criam seus filhos, cuidam, dão carinho, brincam e brigam também! Que estão lado a lado a mãe de seus filhos – sendo casados ou não – nessa missão linda e difícil que é criar um outro ser humano.
E claro, as mães solo, que assumem esse duplo papel de pai e mãe! PS. Só para deixar claro, eu não desejo trocar de papel com ninguém, eu não troco a minha Filha por nada, nada nesse mundo.
Autora:
A.M 32 anos, atriz, estudante de pedagogia. Mãe de uma bebê de quase 10 meses.

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