Há livros que a gente lê e aprende. E há outros que a gente lê e se reconhece — em suas dores, dúvidas, alegrias e reconstruções. Psicologia Perinatal: Caminhos do Planejar, Conceber, Gestar e Cuidar é um desses encontros. Organizado por Natália Aguilar e escrito por um grupo de psicólogas que também são mulheres e mães, o livro é uma travessia delicada e potente sobre tudo o que envolve o início da vida: o desejo, a gestação, o parto, o luto e o recomeço.
Logo nas primeiras páginas, somos acolhidos pelo prefácio de Rafaela Schiavo, uma das pioneiras da psicologia perinatal no Brasil, que nos lembra que esse campo — hoje em crescimento — nasceu de uma urgência: olhar com mais humanidade para as mães, os bebês e as famílias. Esse tom de cuidado atravessa todo o livro.
Na apresentação, Natália Aguilar nos convida a entender a perinatalidade não só como um tema técnico, mas como uma experiência profundamente humana. Ela conta que o projeto nasceu de sua própria vivência ao tentar equilibrar os papéis de mãe, mulher e profissional — e da descoberta de que a psicologia perinatal poderia ser esse espaço de compreensão e amparo.
Cada capítulo, escrito por uma coautora, traz um olhar único, quase como se fosse uma roda de conversa entre profissionais que também viveram o que escrevem. Os primeiros capítulos falam sobre o papel da maternidade na sociedade e como ainda carregamos o peso de antigas estruturas patriarcais; e sobre o pré-natal psicológico, mostrando que preparar-se para ser mãe vai muito além de exames e enxoval: é também uma preparação emocional.
Um livro que abraça as dores e belezas da perinatalidade com ternura e verdade.
Um capítulo bastante tocante é o que fala sobre a romantização da maternidade. Ele traduz, com uma honestidade rara, o abismo entre a mãe idealizada e a mãe real, exausta, confusa e, por vezes, solitária. Ao ler, impossível não lembrar das vezes em que escutamos (ou dissemos) frases como “aproveita, passa rápido”, quando, na verdade, o que a mãe precisa é de acolhimento, não de conselhos prontos.
Outros textos igualmente marcantes tratam da infertilidade, das alterações inesperadas na gestação e do luto perinatal, temas que muitas vezes são cercados de silêncio, mas que aqui ganham voz e profundidade. A leitura é, em muitos momentos, comovente. Há também capítulos sobre o momento do parto, o puerpério, a amamentação, a clínica de bebês, o desmame gentil e o sono e apego, que ampliam o olhar sobre o cuidado integral com mãe e bebê.
O que torna o livro tão especial é o equilíbrio entre a teoria e a sensibilidade. Não é um manual técnico, tampouco um relato pessoal: é uma costura entre ambos. As autoras escrevem com o corpo inteiro: com a escuta da psicóloga, mas também com o coração de quem entende o que significa atravessar o puerpério, a culpa, a transformação e o amor que se aprende a cada dia.
Ler Psicologia Perinatal é, no fundo, um exercício de empatia. É perceber que o nascimento de um bebê é também o nascimento de uma mãe, de um pai, de uma nova família e que esse processo merece ser acompanhado com cuidado, ética e ternura.
Um livro que deveria estar nas mãos de todo profissional da saúde, mas também de qualquer pessoa que deseje compreender com mais profundidade a jornada de quem gera, pare e cuida.
E, como diz a própria dedicatória de Natália Aguilar:
“Dedico também a todos os filhos que transformam mulheres em mães.”
Depois de ler, é impossível não sentir que algo também renasceu em nós.





