COLUNA | Uma parte bem doída

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Há um texto muito conhecido pelas mães atípicas que é: “Bem-vindo à Holanda”. Esse texto relata a verdadeira jornada de uma mãe atípica ao descobrir o diagnóstico de um filho, sem romancear como algumas pessoas tendem a fazer, como se a caminhada de uma mãe atípica fosse cheia de flores ou uma estrada percorrida por uma guerreira e a maternidade atípica bênção vinda do céu. 

Ora, vejo todos os filhos como bênçãos, atípicos ou típicos. Vejo a caminhada materna cheia de flores e espinhos. Sim! Vejo dessa forma e sei que muitas pessoas podem até não concordarem comigo. 

Às vezes somos tolhidas por expressarmos nossos pensamentos, sentimentos e emoções só porque somos mães. Já me culpei muito por isso, por dizer que estava cansada, frustrada, decepcionada, triste, etc. Antes de sermos mães, somos seres humanos, com sonhos, desejos, inquietudes e necessidades e, às vezes, temos vontade de falar um monte.

Voltando ao texto “Bem-vindo à Holanda”, ele fala do planejamento de uma viagem à Itália e a mudança do roteiro no meio do trajeto e a chegada na Holanda. E ao chegar na Holanda, a frustração de não estar na Itália, o medo por não ter estudado nada sobre aquele local. 

A insegurança por não conhecer ninguém que fizesse parte daquele lugar novo. O medo de não saber o que fazer naquele lugar tão diferente.

É assim a maternidade atípica: estar dividida entre o filho sonhado x o filho real. Nenhuma mãe deseja ter um filho com deficiência antes desse filho vir ao mundo, a não ser quando a mãe já sabe do diagnóstico antes de o bebê nascer. Independente disso, está tudo bem, não há nada errado, não precisa haver culpa, o amor de uma mãe pelo filho é incondicional e o direito de expressar seus sentimentos é um livre arbítrio.

A mãe atípica trava uma luta interna no coração e na mente. Dualidades como tristeza x alegria – fraqueza x firmeza – medo x coragem – insegurança x determinação, esses são exemplos de emoções e sentimentos que as mães carregam em sua jornada materna, causando ansiedade, estados depressivos, estresse e burnout parental. 

A rotina de uma mãe atípica é igual à de uma mãe típica, acrescido de outros compromissos, de lutas e preocupações um tanto diferentes. Enquanto as mães típicas estão levando seus filhos para escolinha de futebol, balé, judô, natação, curso de inglês, festinhas dos amiguinhos da escola, mães atípicas levam seus filhos para as múltiplas terapias. 

Além de todos os desafios enfrentados no cotidiano, muitas vezes tendo que matar um leão por dia para sua sobrevivência, sofre com as emoções ao saber da festinha que seu filho não foi convidado por ter uma deficiência. 

Uma parte bem doída é a segregação, pois vivemos em uma sociedade preconceituosa, que bane o diferente, que valoriza a aparência, o que o outro é por fora, que ensina o desamor para os filhos. 

Todos os dias lemos nas redes sociais um caso de preconceito, desprezo em relação às pessoas com deficiência. Fatos que ocorrem em escolas, parques, shopping, eventos. 

O ser humano está falido! Falido de amor, empatia, solidariedade, respeito e compaixão. É preciso que a sociedade resgate os valores como respeito e generosidade. E é preciso começar pela família, a primeira sociedade que uma criança conhece. Mário Sérgio Cortella fala algo que soa muito bem:

 “Que filhos vamos deixar para o mundo?”

É exatamente sobre isso a mensagem que quero deixar nesse texto. Os pais são o espelho para os filhos. Pais com discursos preconceituosos na frente dos filhos, pais que ofendem as pessoas na rua, desrespeitam regras, pais que humilham aqueles de classes menos privilegiadas, que desrespeitam as diversidades. Esses pais estão ensinando o que para os filhos? Os pais precisam rever a maneira de educar os filhos, o respeito, a empatia, a compaixão pelo próximo precisa começar em casa.

Só assim crianças e adolescentes de hoje serão adultos mais empáticos e compassivos, formando uma sociedade mais justa, gentil e equilibrada emocionalmente, onde todo tipo de diversidade será respeitada.

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