Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Um ano de pandemia. O que mudou?

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Há um ano, não imaginava que me tornaria colunista. Também não imaginei que dedicaria tantas palavras ao mesmo tema: Covid-19. Diante de mais de 300 mil mortos (número que cresce assustadoramente), parece leviano tratar de qualquer outra coisa. Parece que a dor dessas famílias não merece o devido cuidado e respeito.

Há ainda, os 80% de infectados que sofrem com a “Covid longa”, sintomas que persistem após semanas ou meses da cura da doença. E também os famintos, desempregados, desabrigados ou desassistidos como resultado direto da pandemia.

Nesse ano a ciência avançou muito. Centenas de fármacos (remédios e vacinas) foram analisados, tecnologias foram criadas para baratear equipamentos (como respiradores), formas e produtos de higienização foram desenvolvidos, de forma que é possível ter alguma “nova normalidade”.

Os países mais conscientes já colhem os louros da imunização de rebanho. Outros, conseguem contornar a falta de vacinas com restrições a liberdade de seus cidadãos, porém oferecendo respaldo (inclusive financeiro) para tanto.

A realidade brasileira não conta com nenhuma destas opções. O Governo Federal apostou a grande maioria de suas fichas em medicamentos comprovadamente ineficazes (inclusive após a comprovação da ineficácia), fez contratos insuficientes para garantir a rápida imunização, ofuscou o combate a pandemia com rivalidades e preconceitos, deixou de fechar as fronteiras quando devia, trocou técnicos por quem não tinha capacidade de seguir o comando da saúde dos compatriotas, elevou o imposto sobre cilindros de oxigênio às vésperas do caos no Amazonas, espalhou mentiras, deixou faltar remédios, oxigênio medicinal, e até mesmo os itens fundamentais para entubar pacientes graves, além de não garantir renda aos mais pobres.

Governos locais – estaduais e municipais – de maneira geral, evitaram um caos maior (inclusive porquanto a vacina mais utilizada no plano nacional de imunizações adveio justamente pela atuação de um governador), mas não sem considerar os votos e a popularidade (sobretudo às vésperas da eleição de 2020).

Há ainda que se verificar futuramente os gastos públicos (seja com medicamentos ou equipamentos) por fundados receios de corrupção e superfaturamento.
Enquanto a Nova Zelândia teve 2.493 casos (número inferior ao nosso recorde de mortos) e 26 mortos, e inúmeros confinamentos (lockdowns) curtos, aqui vivemos níveis diversos de mobilidade (porém, sem resultados satisfatórios, inclusive, pelo prolongamento das restrições que acabam por gerar insatisfação e desrespeito a quarentena.

Os programas de transferência de renda, abrigos e alimentação também são deficientes, o que é sentido de maneira mais profunda já que, com redução de renda, os donativos também foram reduzidos, e impedem mais pessoas de se isolarem, para garantir a própria mantença (seja trabalhando ou em filas para garantir alguma refeição).

Casos de agressões insanos (por exigir-se o uso de máscaras e até mesmo por orações), pessoas contaminadas, cientes de seu diagnóstico, propositadamente expondo outras, uso político da pandemia, criação de fake news infelizmente são notadas nesta singela retrospectiva.

Mas, felizmente, também experimentamos um período de significativa união, tanto de pessoas físicas quanto de empresas, o que nunca tinha visto, nesta proporção.
Infelizmente, no Brasil, a pandemia está bastante longe do fim. Provavelmente teremos de conviver com máscaras e protocolos por bastante tempo até chegarmos na imunização de rebanho.

Será necessário reabilitar, capacitar, incluir e assistir milhares de pessoas, inclusive com benefícios previdenciários para os pacientes com casos graves de Covid longa e órfãos da pandemia (inclusive aqueles cujos pais não eram vinculados ao INSS).

O sistema de saúde deve ser reestruturado, inclusive para retomar os calendários vacinais atrasados, exames e consultas de rotina, realização das cirurgias postergados, e assistência dos milhares de brasileiros que se desvincularam dos planos de saúde, além dos que já dependiam exclusivamente do SUS, inclusive com foco em saúde mental.

A educação deverá passar por significativas modificações, a fim de viabilizar que os mais afetados pelo ensino online recuperem o tempo e conteúdo perdido. Os transportes devem ser revistos, a fim de impedir novas aglomerações (terreno fértil para a mutação e transmissão de vírus em geral).

E a sociedade também precisa passar por profunda transformação, para torná-la mais humanizada, tolerante e solidária. Logicamente o Poder Público deve ser o principal responsável pelas políticas necessárias para a superação da crise sanitária, mas isso não significa a falta de responsabilidade individual de cada cidadão.

Espero que o que mudou no último ano seja muito pouco, perto do que mudaremos neste ano.

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