COLUNA | Ser bonita é ser livre

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Eu fui uma menina estranha. Daquelas tímidas, que tem poucas amigas e vergonha até do próprio reflexo no espelho. Meus pais não me ensinaram nada sobre autoestima. Pelo contrário. Acho que a baixa autoestima deles veio pra mim. Sempre recebi críticas pela minha aparência desajeitada e os cabelos finos e rebeldes. Os dentes tortos e o rosto cheio de espinhas também não ajudavam muito.

Cresci, assim como muitas meninas, sob a era da ditadura da beleza, dos tratamentos estéticos, das cirurgias salvadoras. Eu mesma fiz uma plástica de nariz com o dinheiro do meu primeiro salário!  

Só hoje, com 43 anos, estou aprendendo a me amar. E a dizer foda-se! Um foda-se para o silicone que iria empinar os meus seios que amamentaram por cinco anos. Um foda-se para o botox e o monte de químicas que iriam exterminar as minhas rugas. Um foda-se para as lipos e todas as intervenções estéticas. 

Hoje, o que me orgulha é ver o novo movimento que tomou conta das redes sociais: o da aceitação do próprio corpo. Eu vejo isso com muito entusiasmo e orgulho das manas que estão encarando a  indústria da beleza de frente. Mulheres, muitas delas mães, que finalmente passaram a aceitar seus corpos e expô-los nas praias, nas piscinas, nas redes sociais. Sem filtro, sem edição, sem regimes malucos.

Ainda é um movimento tímido, num país que é conhecido como campeão mundial dos gastos com aparência.  

Para mim, essa autoaceitação das mulheres é muito importante. Faz parte do início de um processo de cura do feminino, tão explorado e abusado há décadas. Depois de ler o livro “Manual de Introdução à Ginecologia Natural”, da escritora e parteira chilena Pabla Pérez San Martín, descobri que não basta curar a relação com a nossa casca. A gente precisa de um mergulho mais profundo: de entender e curar quem somos por inteiro.

Estou nesse mergulho faz três anos, desde que decidi tirar um período sabático para ficar em casa com os meus filhos. Eu já não sabia quem eu era. Estava doente e exausta. Precisava me curar. O processo tem sido gradual: comecei cuidando da minha saúde e passei por uma reeducação alimentar. Depois que me senti fortalecida, voltei a me exercitar e buscar tratamentos e terapias naturais. Minha caminhada só está no começo. 

Eu, assim como outras mulheres, venho de décadas de abusos emocionais, baixa autoestima e falsas crenças. Não é fácil curar nosso feminino. Às vezes, tenho recaídas. Mas eu tenho fé que um dia vou me sentir uma mulher livre de verdade, sem encanações com o meu corpo. Livre do que a indústria me manda vestir, comer, consumir. Livre do que os outros me mandam ser.  

O que eu já percebi é que para chegar lá é preciso rever nossa alimentação, nossas relações sociais e familiares tóxicas, entender o funcionamento biológico do nosso corpo, com base nos ensinamentos da ginecologia natural (O tal empoderamento é isso! A consciência de quem você é e onde está inserida). 

Existem dezenas de mulheres fantásticas falando sobre esses assuntos nas redes sociais e nos livros. 

Ser bonita tem a ver menos com padrões e mais sobre ser livre. E liberdade é muito sexy, não acham?

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