Sobre medos, algo sempre sabemos. Todavia nem sempre queremos falar deles. Como responder às perguntas de nossas crianças sobre o medo, quando temos tantos deles e nos incomoda pensar ou falar deste assunto?
Para abordar este tema, que muitas vezes nos gera insegurança, dois livros podem nos ajudar, especialmente em relação ao escuro, são eles: “O gato e o escuro”, de Mia Couto, e “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas”, de Emicida.
A princípio, ambos falam do medo do escuro, mas as narrativas nos levam a pensar sobre por que temos medo da escuridão, conduzindo a possibilidade de o medo estar em nosso interior, mas reverberarmos para coisas externas como o que não podemos ver ou reconhecer. Assim é possível perceber uma metáfora sugerida para pensarmos sobre o receio por aquilo que nos é estranho, diferente e misterioso.
Frases como “somos nós que enchemos o escuro com nossos medos” (Couto, 2008) nos oportuniza a pensar sobre como enfrentamos ou escondemos nossos reais temores. Ou ainda “às vezes, o que nos assusta, tem muito da gente” (Emicida, 2020), cujas palavras nos trazem a oportunidade de refletir sobre como criamos o medo em nós e em nossas crianças. Alguns medos aprendidos na infância nos acompanham por muito tempo e acabamos por reproduzi-los em nossas filhas e filhos.
Sentir medo faz parte da vida, mas evitar falar sobre ele não nos ajuda a superá-lo. Se nossas crianças falarem sobre os seus, poderemos ajudá-las, e a literatura pode ser uma maneira de dialogar sobre o tema.
Além dos textos maravilhosos, as ilustrações destes livros favorecem a leitura e enriquecem a linguagem, possibilitando interpretações e diálogos sobre seus significados. Duas leituras para crianças e adultos. Sobretudo, para quem se sente motivado a pensar sobre seu interior e como o exterior nele se relaciona, enfim, histórias para pensarmos sobre o que nos faz sentir medo.
Referências
COUTO, Mia. Estórias abensonhadas/ Mia Couto. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
COUTO, Mia. O gato e o escuro/ Mia Couto; ilustrações: Marilda Castanha. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
EMICIDA. E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas/ Emicida; ilustrações: Aldo Fabrini; 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.