Ultimamente, os algoritmos me encontram em uma insana procura por soluções rápidas e imediatas. Quero tanto que o trânsito por esse caminho duro e pesado do maternar se torne o produto da receita que me venderam.
Ela, no auge dos seus quarenta e poucos anos, com a mesma cara (e corpo) de uma jovem que acaba de sair da adolescência e adentra a vida adulta. Renomada em sua profissão, bem casada, financeiramente independente e resolvida. Simpática, amiga daquela que é imortal. Linda. Tipicamente a cara da elite brasileira. Sim, ela. É dela que vêm os conselhos sobre como levar a vida de mãe.
Chorei do início ao fim do post. Ela realmente parecia viver minha angústia de mãe. Por um momento, me senti representada e abraçada. Amigas me enviaram o post, me marcaram. Eita! Elas também percebem que minha vida de mãe está um fracasso! Que falho tentando e falho por não tentar. Mas que não estou só! Será?
Será que a barra da mãe privilegiada é a mesma que a da mãe preta?
Nenhuma mãe deveria ser cobrada, mas todas são. As pretas, então… Mas elas são fortes, elas aguentam.
Se você já me julga por esta fala, este texto não é para você.
Minha voz é só uma fina camada da profundidade da dor de tantas… e talvez a minha dor não chegue nem perto daquelas que, como Carolina, no seu mais puro e refinado vocabulário, me fez e me faz refletir o quanto eu, mãe preta de tantos, ainda usufruo de tantas regalias. Meu quarto de despejo não se assemelha ao dela – nem ao de ninguém – mas é tão sacro e genuíno quanto o daquela que expõe as dificuldades da maternidade dentro do seu carro do ano, transmitido pelo seu smartphone a caminho de um de seus afazeres diários – sem a preocupação com os boletos ou os afazeres domésticos.
A intenção não é gerar pena, dó, nem mesmo compaixão, mas sim validar a dor de cada uma e reconhecer o meu papel em uma sociedade onde é preciso que uma mulher branca se solidarize e questione as artimanhas da justiça brasileira, que no papel condena, mas que na realidade absolve aquela que sabe que ficará impune diante da queda de mais um pequeno e indefeso corpo preto.
Ah, São Miguel Arcanjo, que nossas orações cheguem a ti e que nossa fé, ora esmorecida, não morra de vez!
Não tenha filhos.
Eles apagam nossa vida, acabam com nosso corpo, invadem nossos pensamentos, nos tiram a paz.
Não tenha filhos.
Eles esfriam nossas relações, nos consomem por inteiro e, quando crescem, nos tornamos invisíveis.
Não tenha filhos. Ou tenha!
E seja a pessoa mais importante da vida de alguém por alguns anos; receba presentes inusitados e sinta a vontade de cheirar aquele cheirinho de nenê para sempre. Seja o porto seguro que espanta monstros e tantos outros medos. Seja a razão da existência.
Tenha filhos – se quiser!
Não tenha filhos – se quiser!