A cegueira não é a minha prisão

Compartilhe esse artigo

O Facebook sempre pergunta o que eu estou pensando, e raramente respondo, mas hoje foi um dia marcante para mim. Meu coração está aflito, porque nessa semana eu tive uma discussão com uma pessoa, a respeito do meu filho, e da minha cegueira. Tal pessoa me disse que não iria em uma apresentação, ou em um evento para prestigiar o filho, porque ela não está vendo o que está acontecendo, e ninguém perde seu precioso tempo descrevendo nada. Eu até concordo. Não é comum que as pessoas se preocupem em descrever algo, mas e daí? Isso não me impede de estar lá.

A pessoa em questão decidiu ir um pouco mais longe, frisando que depois que o filho voltasse para casa, ganharia um abraço e um “parabéns”, e que isso era o bastante. E eu discordei de novo. Na verdade, fiquei abismada. Sempre acompanhei o Lucas em todas as coisas que ele realiza. Seja uma apresentação na igreja, seja uma troca de faixa como aconteceu hoje, seja um café com arte (como já ocorreu em sua escola), seja em uma festa da família, como aconteceu há alguns finais de semana. Não importa o que é. O que realmente vale para mim, é estar junto dele. Mesmo sem poder contemplar com os meus próprios olhos, aquilo que ele está fazendo.

Eu sempre posso contar com a descrição de aplicativos que usam a inteligência artificial para que assim eu possa visualizar a imagem em questão, quando eu tiro uma foto dele, ou peço para alguém tirar. Eu posso contar com o relato dele, que faz questão de me contar tudo, e também me faz tocar nele, para que eu possa ver os movimentos feitos durante a apresentação.

No caso de desenhos, ele sempre pega meu dedo, contorna a folha, e explica a respeito das cores, e dos detalhes ali retratados. Eu vivo bem com tudo isso. Crendo que eu não posso fazer com que a minha cegueira aprisione meu filho em um mundo escuro e sem vida, só pelo fato dos meus olhos estarem apagados. Mas eu ainda posso ouvir quando anunciam o seu nome.

Quando ele é aplaudido, elogiado. Eu ainda posso abraçá-lo, eu ainda posso vê-lo sorrir quando toco em seu rosto. Então, eu não concordei com a fala da pessoa em questão, e sigo defendendo a tese de que, mesmo cega, eu vou continuar ao lado dele, o acompanhando em tudo o que eu puder, em tudo o que ele quiser. Porque nós veremos o que tivermos que ver, juntos e ponto final.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário