Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | MMS e o desespero dos pais de autistas

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Recentemente recebi um vídeo (link do vídeo se quiser postar: https://www.youtube.com/watch?v=LBuwGpOVjHc) falando sobre uma solução tóxica conhecida como MMS (Mineral Miracle Solution ou Solução Mineral Milagrosa) que é vendida como uma cura milagrosa para o autismo.

Com Dióxido de Cloro em sua composição, o MMS tem ação alvejante e pode trazer diversos riscos à saúde da pessoa que fizer uso da substância e até mesmo a morte.

O produto é proibido pela Anvisa, mas mesmo assim existem relatos de pessoas que conseguem comprar tranquilamente o MMS e muitos pais estão ministrando em seus filhos com a esperança de que o diagnóstico mude e eles possam ter uma vida “normal” com essa cura milagrosa.

Os próprios vendedores afirmam que o gosto é ruim e o cheiro é forte e, portanto, indicam que a dose seja ministrada por enema (via anal) caso a criança se recuse a beber a solução. O resultado é a descamação das paredes do intestino que os seguidores afirmam que são “vermes causadores do autismo saindo do corpo”. É uma prática muito nociva e extremamente perigosa.

Daí você pergunta:

“Mas por que os pais dão tal coisa para os filhos sabendo do risco que eles correm?”

A resposta é simples, até clichê:
Desespero e falta de informação.

Quando eu recebi o diagnóstico de autismo da minha criança, eu fui uma pessoa privilegiada. Eu não tive a fase da negação (na verdade eu já esperava pelas minhas observações), eu me dispus a pesquisar sobre, passei meses lendo, vendo vídeos e aulas de pessoas dispostas a disseminar as informações corretas como o Dr Clay Brites da Neurosaber (muito bom para todos conhecerem), passei a ler artigos médicos pesquisando todos os termos que eu não sabia, cheguei a fazer empréstimo para pagar R$ 3.000,00 para consultar o dito “melhor especialista da cidade”, tive a sorte de encontrar uma psicóloga para mim e para minha criança e um psiquiatra que até hoje estão dispostos a debater sobre o autismo e outras deficiências comigo e hoje faço pós graduação online de Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual.

Mas eu tive acesso. Eu tive o privilégio do acesso à informação e felizmente não tive a fase de desespero e negação. Mas minha família não. Eles ficaram perdidos e eu pude presenciar dentro de casa a busca da cura milagrosa, além de começar a acompanhar outras famílias e ver o desespero perante os meus olhos. Tudo causado pela falta de informação.

Por mais que o mesmo acesso à internet leve tanto para a compra do MMS e o alerta aos riscos, quando uma pessoa está desesperada pela cura de algo que ainda não tem cura (sequer tem uma explicação sólida), é óbvio que o desespero leva a caminhos que nem sempre são seguros.

Se não fosse assim não estaríamos sofrendo o efeito rebanho com a volta de doenças erradicadas no passado por conta de uma grande quantidade de antivax que acreditam realmente que vacinas causam autismo. O autismo se tornou “o mal do século” na boca de algumas pessoas, mas ele não é. Ele sempre esteve aí, só agora que começamos a falar mais abertamente sobre isso.

Em 4 anos de busca por diagnóstico, tratamento e informações, encontrei também profissionais despreparados, muitos que não estão sequer com vontade de explicar o autismo para pais que não tiveram a oportunidade de estudar. Profissionais despreparados tanto para lidar com o autista quanto com as famílias. E isso só aumenta o preconceito dos próprios familiares como de uma população inteira.

Pessoalmente, como eu disse, enfrentei pessoas em casa querendo curar o autismo. Levaram para benzer, quiseram alterar dieta, levamos em homeopatia, me formei como terapeuta floral, tentamos de tudo (eu para melhorar a qualidade de vida, meus familiares em busca de uma cura). Nesse meio tempo tive que ouvir de pessoas “espiritualizadas” que é encosto da mãe (ai, a mãe, sempre com culpa, até quando tem encosto), já ouvi sobre fazer um tratamento para “tirar os metais pesados das vacinas”, já ouvi várias barbaridades. Até que, quando comecei a mostrar os artigos e eles começaram a estudar comigo, finalmente este ano eles entenderam que nenhum dos CIDs apresentados tem cura e, após esse “período de luto” finalmente se juntaram a mim no período de luta. Mas foi uma situação bem complexa.

A informação hoje não está clara o suficiente. Não está disponível com uma leitura fácil. A psicofobia também não ajuda em nada e os familiares ficam cada vez mais assustados como se aquilo fosse uma sentença garantindo o fim da vida dos seus filhos. Não é o fim da vida, é o começo de uma vida diferente da que você esperava.

Não vou romantizar com textos melosos. Maternidade atípica é muito dolorida. Ela tem o peso da maternidade normal acrescido do peso de criar uma pessoa atípica, onde muitas coisas necessárias como tratamentos, remédios, diagnóstico, não dependem da mãe, nem da criação nem de nada, mas de um trabalho em equipe com todas as pessoas presentes na vida da criança (e do adulto) de forma que tudo funcione como uma engrenagem e nem todo mundo tem vontade de fazer esse trabalho.

Não é nenhum pouco fácil, o número de mães e pais que sofrem com depressão e ansiedade é muito maior quando se tem filhos atípicos, os grupos sobre deficiências estão lotados de pais pensando até em suicídio (e damos todo o apoio para que a pessoa fique bem, desde dar palavras de apoio até indicar médicos e tem até quem ofereça tratamento gratuito para algumas pessoas). E é esse desespero que faz com que o MMS seja tão vendido assim.

É importante que prestemos atenção aos sinais de intoxicação de uma criança autista. Essa criança pode estar sofrendo com a “dieta” do MMS e muitos textos estão alertando profissionais da saúde para que eles possam intervir o mais rápido possível para salvar essas crianças.
Infelizmente não há como controlar isso e o método mais eficaz de combater esse tipo de riscos é disseminar a informação da forma mais simples e ampla possível.

Explicar o autismo e quaisquer outras deficiências e transtornos mentais de forma que desde o Doutor até a “tia do lanche” que não teve oportunidade de estudar entendam e possam agir de forma correta com os autistas.

A informação é a única forma de combater esses riscos.

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