COLUNA | Desabafo de uma mãe: Gordofobia e suas várias faces

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Recentemente, postei uma foto de um acompanhamento que venho realizando desde o início de 2020, mas que iniciou em 2018 e os comentários que recebi me fizeram relembrar desse processo.

Comecei a frequentar academia por recomendação psicológica. Em 2017, uma série de fatores desencadearam algumas crises de pânico, que ruminaram num quadro de depressão leve, procurei ajuda profissional e encontrei muitas respostas para quais eu nem tinha formulado perguntas ainda.

Por que quero falar sobre isso? Porque a insatisfação com meu corpo iniciou após minha gestação, engordei 30kg na gravidez, uma gestação difícil que culminou na mudança do meu corpo. Após o nascimento do meu bebê, ouvia sempre “já já seu corpo volta”, me lembro de não entrar nas minhas roupas antigas e ter vergonha de comprar um número maior, na época eu tinha 18 anos e a palavra Gordofobia não existia para mim.

Demorei um ano para sair de casa e entrar em uma loja, uma vez sai para procurar um vestido para um casamento parei na primeira loja que vi e perguntei o valor de um vestido e a resposta que recebi foi: “não temos vestidos que caibam em você e acho difícil você encontrar”. Sai desolada, chorei muito e isso me marcou porque eu já tinha muita vergonha, sempre ouvia “Nossa, como você engordou depois da gravidez”, “Seu corpo não voltou, né?”, “Estranho você não ter emagrecido, menino costuma sugar a gente”. Essas palavras me faziam acreditar que o problema era eu. Desde então, várias paranoias tomaram minha mente e criaram raízes.

Foram muitos anos evitando foto, baixa autoestima, relacionamentos abusivos, insegurança, distorção de imagem que levaram a um relacionamento emocional com a comida e criaram um distúrbio de ansiedade, tem noção do quanto de coisa ainda tenho tratado na terapia?

Hoje reconheço gatilhos, alguns eu evito, outros, enfrento, e falar é uma maneira de enfrentamento. Por isso voltamos a foto mais recente. A terapia me fez reconhecer muitos defeitos e também me ensinou a amar meu corpo na forma atual, hoje com acesso à informação compreendo muito mais o processo que vivenciei e de como fui dura comigo mesma, como me sabotava e como deixava os outros me fazerem mal por conta de padrões estéticos.

Parece simples, mas foram passos bem difíceis, minha saúde mental precisava de atenção, alimentação e disciplina foram recomendações médicas, não era só minha mente que estava um caos, mas meu organismo como um todo.

Criar hábitos saudáveis trouxe muitos resultados positivos, dentre eles, a diminuição do manequim. Não nego que fico feliz com todos os resultados, inclusive os visíveis, mas não é essa a intenção real e final, é só consequência.

Por fim, quero chamar atenção aqui aos comentários, sempre elogios voltados ao corpo, SEMPRE! Só que ninguém conhece o processo por trás disso. Não sabem como foi difícil reconhecer tudo que escrevi aqui, nem como foi passar por cada processo desse.

Ninguém sabe como é difícil criar, manter hábitos e que sempre preciso de ajuda e incentivo porque atividade física é algo que detesto fazer. Faço poucos posts sobre meu corpo porque é difícil ainda ouvir elogios relacionados a ele, (vejo aquela menina há 12 anos querendo desesperadamente ouvi-los).

Nenhuma mulher deveria passar por isso! Tudo em mim mudou ao trazer uma vida ao mundo, inclusive meu corpo; a maternidade deixa marcas e tudo bem, eu nunca precisei vestir 38 ou receber elogios para ser uma pessoa mais feliz, meu corpo não me define. Eu repito isso todos os dias, tem dias que dá certo, tem dias que não, mas seguimos desenraizando cada paranoia que se instalou por aqui. Ser mãe foi de longe a melhor coisa que já me aconteceu, salvou minha vida várias vezes!

Se orgulhar do processo também é enfrentar os gatilhos que essa pressão estética para ser uma mãe sem marcas me trouxe.

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