Campanhas de cores e meses trazem à tona questões latentes e de relevância social, que nem sempre recebem a devida atenção no cotidiano.
Agosto, além de ser o mês da visibilidade lésbica, tem sido utilizado como escopo de debate sobre a importância da amamentação.
Desde 2017, o ministério da saúde encampou a campanha mundial, na forma de lei, proposta pela Organização Mundial de Saúde, que traz o potencial salvador de vidas que o aleitamento materno proporciona.
Haja vista que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida do bebê, se estendendo até dois anos, de forma complementar, garante a saúde do lactente e da lactante.
Já setembro, traz a agenda da importância de se prevenir o suicídio por meio do cuidado integral da saúde, sobretudo a saúde mental.
Tema de suma importância para nós, mães, uma vez que crianças e adolescentes cada vez mais engrossam o caldo de pessoas portadoras de diagnósticos psiquiátricos, muitas vezes, alheios ao nosso conhecimento, cuja constatação, o diagnóstico e o tratamento podem representar uma dura jornada a se trilhar.
Em outubro, celebra-se a luta contra o câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce para aumentar as chances de eficácia no tratamento e cura.
O que todas essas importantes pautas trazem em comum, é que todas elas precisam ser pensadas e refletidas a partir de um importante elemento lembrado apenas em novembro.
O racismo estrutural permanente na sociedade brasileira, remanescente de uma experiência secular de escravidão e desumanização de corpos negros, que não se esgotou por completo em 1888.
Embora os indicadores existentes não sejam plenamente adequados, algumas pesquisas evidenciam que mulheres brancas amamentam uma média maior de tempo em relação às mulheres negras. Isso se deve a vários motivos, dentre eles, o fato de que mulheres negras são a maioria das mulheres em situação de subemprego.
Não tendo assegurado, portanto, o direito à licença maternidade ou trabalhos que favoreçam o aleitamento ou a ordenha. Incidindo, inclusive, na maior taxa de mortalidade infantil por baixa nutrição em crianças negras.
Ademais, conforme os dados do próprio Ministério da Saúde, jovens negros possuem até 45% mais chances de cometer suicídio por conta do racismo, da maior exposição a situações de violências, bem como por figurarmos os piores cenários nos indicadores sociais da fome, da renda e do desemprego.
Elementos que potencializam o sentimento de desamparo e a desqualificação social. Tal que, profissionais da área da saúde já apontam que a condição de vida que possuímos é um dos elementos basilares para a constituição de nossa saúde mental.
Destarte, o câncer de mama não escolhe raça, no entanto, o fato de haver disparidade social ao diagnóstico precoce pelo acesso à realização da mamografia, bem como a velocidade para iniciar o tratamento são condicionados a fatores socioeconômicos e geográficos.
Podemos deduzir que mulheres negras possam figurar um grupo de risco, haja vista sermos maioria dentre os que têm dificuldade para acessar o sistema de saúde, pela pobreza e por sermos maioria nas regiões do Brasil em que o serviço de saúde não chega ou chega de forma insuficiente.
O que poderia render uma estratégia de campanha direcionada, caso as instituições fossem comprometidas com a superação das desigualdades, como estratégia de mitigação da doença.
Desta forma, cabe a nós atuarmos enquanto sociedade para denunciar e combater as desigualdades raciais e sociais que operam na realidade, incidindo sobre as condições de vida e morte daqueles que compreendem a maioria da população brasileira. E que sequer aparecem nas campanhas coloridas e de nossos pretendentes a representantes na política institucional, quando muito, como um recorte.
Revisão: Vanessa Menegueci – @elasoqueriaescrever.