A desconstrução da romantização da maternidade é importante para dirimir a culpabilização de ser mãe, já que nesta função se exerce a beleza, a ternura, o afeto, o medo e a solidão.
A maternagem é o zelo, o cuidado e a proteção, o amor incondicional e a dedicação total aos filhos. Na sociedade contemporânea, a maternidade é a condição inerente e natural das mulheres, mas nem todas as mulheres querem esta função! Nem mesmo as que possuem filhos.
No Brasil, o censo demográfico de 2010 mostra que em média cada mulher tem dois filhos ou filhas, e as pesquisas do IBGE de 2019 demonstram que 55% das mulheres possuem trabalho remunerado. Nesta relação, se entende que a maioria das mulheres têm multitarefas, assim como aponta o relatório da Oxfam de 2021: “O patriarcado e as normas sexistas desempenham um importante papel no aumento da exposição das mulheres à Covid-19. […] As mulheres já realizavam três quartos do trabalho de cuidado não remunerado antes da pandemia chegar.”
Neste sentido, há amarras invisíveis impostas pela sacralização da maternidade que tensionam perspectivas de objetificação dos corpos das mulheres por uma construção social. Ser mãe é esquecer de si mesma, é priorizar o filho e todos os afazeres que compõem essa função exaustiva e inatingível.
Com isso, questionamentos como: em qual lugar as identidades das mulheres estão alocadas? Como preencher essa lacuna na subjetividade feminina? E como ter voz diante das armadilhas impostas pela sociedade? São perguntas difíceis e complexas a serem respondidas, porém o diálogo e o acesso democrático à informação são os primeiros passos para a desconstrução de conceitos estruturais coletivos.
Os feminismos existentes são para darem conta de reparar e transformar em ação, todos estes processos que sempre colocaram as mulheres em posições inferiores. As mulheres podem ocupar os lugares que desejarem, pois sabem inovar na reorganização dos espaços físicos, sociais, culturais, intelectuais e científicos.
AUTORAS: Kelly Gularte é mãe, professora de inglês da Educação Básica, tradutora e pesquisadora. É mestranda em educação no PPGED – MP/UERGS. Instagram: @londoncristina.
Rosana Siqueira é mãe, professora da Educação Infantil, escritora e artista independente. Instagram: @rosiq2021.
REFERÊNCIAS:
Oxfam Brasil. O vírus da desigualdade: Unindo um mundo dilacerado pelo coronavírus por meio de uma economia justa, igualitária e sustentável. Relatório Oxfam Brasil, janeiro de 2021. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/wp-content/uploads/2021/01/bp-the-inequality-virus-110122_PT_Final_ordenado.pdf?utm_campaign=davos_2021_-_pre_lancamento&utm_medium=email&utm_source=RD+Station. Acesso em 06 fev. 2022.