Adeus, mãe ideal

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Eu tenho que confessar que tudo o que idealizei em relação a ser mãe foi questionado, por mim, na adolescência da minha filha.

Não sou a mãe segura e calma que gostaria de ser. Por mais que eu tente, por mais que convide minha filha para sair, por mais que eu saia com amigos e colegas de trabalho, sendo, muitas vezes, a primeira a propor encontros, tentando arrastar pelo exemplo, minha filha tem problema com barulho, com socialização, e não quer sair de casa. Sente-se confortável com as amizades virtuais.

Quando comparo com a minha adolescência, isso se torna um grande disparate, pois os tempos são outros — por mais que pareça clichê. Mas não é!

Eu não precisei superar uma pandemia. Não havia redes sociais dizendo o tempo todo que “o mundo é perigoso”. As histórias surgiam no rádio, na TV, mas pareciam distantes, não nos afetavam como hoje.

Eu precisei matar a mãe que eu queria ser: a mãe amiga, a mãe parceira. Precisei entender que é saudável os filhos se afastarem dos pais nesses momentos de crise de identidade e construírem suas próprias identidades, questionando quase tudo: “Meu pai gosta de tal coisa, minha mãe gosta de outra… e do que eu gosto?” Talvez os filhos precisem se afastar para tomar fôlego e tentar entender como funcionam em suas peculiaridades, o que escolher, sem intermináveis interferências e controles.

Eu precisei aceitar que, neste momento, sou menos importante que o pessoal do chat no videogame.

Precisei lidar com uma filha argumentativa e desafiadora, eu, que vim de um lugar onde “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

E eu me absolvo desse lugar de erro. Me abraço como uma mãe interessada no bem-estar da minha filha. Uma mãe carnívora que tem uma filha vegetariana. Eu me perdoo por tantas irritações e frustrações, pois fui eu quem escolheu criar um mundo encantado e fácil.

Preciso saber lidar com as queixas do colégio, com as queixas dela em relação a tudo o que acha injusto (mesmo quando não é) e, ainda assim, ensinar autorresponsabilidade. Ser, muitas vezes, a mãe “má”.

Neste Dia das Mães, vou comprar um presente bem bonito e me dar. Não vou esperar ganhar, porque o mundo dela, neste momento, está restrito ao mundo dela e de seus amigos. Vou me dar o carinho que gostaria de receber. E, se vier dela também, vou amar, mas não vou cobrar, nem me frustrar esperando.

Eu sei do que fui e sou capaz de fazer pela minha filha. E a amo demais. Porém, ser mãe é deixar os filhos com autonomia suficiente para serem quem quiserem ser — inclusive esquecer a data.

Por Raquel Bandeira Bertoletti – @psi.raquelbertoletti

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