Você vai descobrir o quanto é imperfeita, mas também vai descobrir que maternidade nunca foi (e jamais será) sobre perfeição. (URIAS, 2017, p. 39).
Depois que me tornei mãe, pude me deparar com a questão do quão paradoxal pode ser a maternidade. À medida em que vamos convivendo com um serzinho tão dependente de nós, torna-se possível apropriarmo-nos em quão trabalhoso é isso, e vai caindo por terra aquilo que a mídia vende para a gente sobre maternidade.
Experimente assistir a um comercial dessas marcas mais famosas de produtos para bebês: você se deparará com mães e bebês bastante tranquilos e com um ambiente de paz que toma conta da cena desses comerciais. Longe de mim afirmar que essa paz não é possível, mas me fica presente a sensação de que, na maternidade, estamos livres do trabalho (e que baita trabalho!) que realmente temos. Noites em claro, choros intermináveis, cólicas de doer o coração de uma mãe, enfim…
Amamos, e não é pouco, os nossos filhos, e é por isso que muitas vezes esse papel se torna tão paradoxal. É paradoxal porque ao mesmo tempo em que ficamos impacientes e torcemos para o bebê dormir logo, quando isso acontece, a impaciência dá lugar ao “apaixonamento” que temos por aquele serzinho e somos capazes de ficarmos horas ali velando e namorando o seu sono. É paradoxal porque ao mesmo tempo em que queremos descanso, quando temos essa possibilidade, queremos voltar a nossa rotina com nossos pacotinhos tão amados.
É paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que punimos, queremos ser o colo de conforto. Ao mesmo tempo em que queremos estar longe, quando estamos, queremos estar perto. Ao mesmo tempo em que somos impacientes, nos incomodamos com a impaciência dos outros com os nossos filhos. E nos cobramos, nos cobramos muito sermos a mãe perfeita, a mãe que tivemos ou a mãe que idealizamos que, apesar de todas as dificuldades, é aquela que dá conta de tudo sem deixar a peteca cair.
A verdade é que a maternidade, sem romantismos, é um período de caos, de mudança, de adaptação, de renúncias… e é solitário!
Me questiono até hoje o quanto é cruel atravessar todas essas mudanças sem o apoio social a uma realidade que muitas vezes é, sim, desejada, mas que não está livre das perdas que ela impõe, perdas essas que frequentemente recaem nas costas da mulher, a mãe recém-nascida.
Mesmo diante do cenário em que cada um vive sua maternidade solitariamente, me chama atenção a falta de empatia e de compaixão de mães com outras mães. Mães que vivenciaram essa experiência solitária e que, ao se depararem com outra mãe em sofrimento, tacam-lhes a “boa” e velha frase: “Você não quis ser mãe? Agora aguenta!”
Vamos com calma, minha gente!
Ser mãe é uma experiência que só conhecemos, de fato, quando somos. Mas quando somos mesmo! Quando andamos pela casa com a criança pendurada no peito; quando passamos noites em claro almejando horinhas de sono do bebê; quando cheiramos o azedo do leite ou da papinha que foi regurgitada; quando vem o primeiro resfriado e queremos tirar com a mão aquilo que nosso filho sente de desconforto; quando deixamos os pequenos chorando na escolinha, pois temos que trabalhar para prover o sustento; quando abrimos mão de nossas carreiras em prol da maternidade; quando deixamos de ir naquele rolê tão legal por ele não ser ambiente para criança; por perdermos a nossa identidade, subjetividade e liberdade que nos faz sermos nós mesmas.
Poderia ficar aqui listando tantas perdas que nos são atribuídas neste momento, pois elas são inúmeras e particulares de cada um, mas o que realmente gostaria de provocar aqui é a reflexão de como nós, mães, tratamos outras mães que vivem essa realidade e que, muitas vezes, pelo receio do julgamento, a vivenciam de maneira solitária. Tratamos tal qual fomos ensinadas: “com minha tataravó foi assim, com a minha bisavó foi assim, com a minha avó foi assim, com a minha mãe foi assim e comigo será assim também”. Percebem que sofremos, mas não paramos para pensar em como modificar essa realidade sofrida e solitária?
Acontece que nos decepcionamos com a nossa própria maternidade, pois esbarramos (em nós mesmas) com uma mãe imperfeita, cheia de defeitos, que certamente faz o que pode, mas se atrapalha no horário da escola, no tempo da mamada, em quando precisa fazer mais papinha, que adormece junto com seu filho ao invés de fazer as coisas da casa, já que sobrou um tempinho.
Nos esbarramos com essa mãe e não com aquela que idealizamos, não com aquela que nós e os outros esperam que a gente seja. Isso torna a difícil tarefa de ser mãe um tanto quanto mais pesada, pois a maternidade envolve muitos outros aspectos do que a perfeição. Mas se você, minha leitora mãe, puder compreender que é exatamente dessa mãe única e imperfeita que seu filho precisa, será mais fácil assimilar que a maternidade nunca foi nem e nunca será sobre perfeição, mas, sim, sobre amor, muito amor!
Ninguém nasce sabendo ser mãe, mas com vontade e dedicação a gente aprende a ser: a melhor mãe que nosso filho pode ter (URIAS, 2017, p. 40).
Referência Bibliográfica
URIAS, A. Muito Além da Maternidade. 1ª ed., Recife: Much editora, 2017.
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Autora: Natália Aguilar / @nataliaaguilarpsicologa