A maternidade de mulheres com deficiência

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Sou uma mulher autista de 40 anos, mãe de três filhos atípicos também. Minha maternidade, enquanto mãe de crianças autistas, foi uma experiência anterior ao meu diagnóstico e, consequentemente, ao meu reconhecimento como mãe atípica nos dois sentidos.

Como mãe e psicóloga, o desejo de que haja integridade no processo de desenvolvimento psicossocial dos meus filhos, enquanto crianças neurodivergentes, é grande. Em contrapartida a esse desejo, nos deparamos com o capacitismo.

Pensar na maternidade sendo uma mulher com deficiência é olhar para os meus filhos com mais tolerância e acolhimento. O diagnóstico tardio fez com que eu me acolhesse dentro da minha vivência como mãe.

A falta de informação perpetua a ignorância e a discriminação, invalidando e invisibilizando mães com deficiência. Pensar na falta de acesso a espaços para mulheres e seus filhos já é uma realidade atual. Quando pensamos em mulheres mães com algum tipo de deficiência, podemos imaginar um contexto de desvalidação constante.

Penso que minhas atitudes frente às situações capacitistas, veladas ou não, são espelho para a forma como meus filhos lidarão com essas questões quando viverem suas paternidades.
O estereótipo sobre como deve ser alguém com autismo contribui para desvalidar a subjetividade que cada pessoa tem, sendo autista ou não.

Meu primeiro parto foi aos 21 anos, o segundo aos 24 e o terceiro aos 33. Durante toda essa vivência, ainda não existia o diagnóstico na minha vida. Sem ele, eu me rotulava, me cobrava e me auto-sabotava.
Aos 37 anos veio o diagnóstico. E, olhando para a forma como maternei meus três filhos, enxergo uma potencialidade incrível vinda da minha força de vontade e do meu alinhamento com os meus ideais políticos e sociais.

Ter uma rede de apoio é fundamental para que a sobrecarga da maternidade típica ou atípica, seja melhor distribuída. Tenho sorte por ter mulheres da minha família como rede de apoio principal. A forma dedicada como minha avó e minha mãe maternam foi fundamental na minha composição enquanto mãe, inclusive enquanto mãe autista.

O diagnóstico não limita. Ele acolhe, esclarece e abre novas possibilidades para a vida.

Não existe mãe perfeita, existe a mãe possível. E a mãe possível é aquela que enxerga e viabiliza suas potencialidades sem negligenciar seus déficits. É aquela que equilibra o trabalho, o estudo, a maternidade.

Um abraço a todas as mães possíveis e reais.

Bárbara Cristina Alves Miranda / @barbara.saoseba

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