Foi um susto quando concebi a ideia de que estava grávida. Logo quando, na minha cabeça, eu estava começando a sair do lugar na minha área profissional. Então eu, que sou meticulosa com planejamentos, planejei toda a minha gravidez para nove meses. Seria o seguinte: vou continuar no trabalho até uns sete ou oito meses. É o tempo que vou precisar para comprar o enxoval do bebê e me organizar financeiramente, vou guardar um dinheiro para o hospital e emergências. Estava tudo lindo até que…
Segunda-feira, acordei às 5h da manhã para preparar meu almoço para o trabalho e já comecei a passar mal. Consegui fazer, mas, às 5h e pouca, quando fui tomar meu café da manhã, vomitei. Fui pegar o ônibus, e dentro dele já comecei a ter náuseas. Pedi a Deus para não vomitar em ninguém. Só foi eu descer para expelir o pouco de coisa que tinha no meu estômago. Fui passando mal no caminho até chegar ao trabalho. Chegando lá, senti um sono que nunca tinha sentido na vida, e eu nem tinha tomado remédio para enjoo. Foi então que comecei a sentir que meu planejamento talvez fosse por água abaixo. E, quatro dias depois, foi o que aconteceu. Pensei muito antes de desistir do trabalho. Eu morava com a minha mãe, minha irmã tinha acabado de ter bebê e também morava com ela. Nossas vidas financeiras estavam bem apertadas, meu namorado, na época, sem emprego, e apenas vivendo do seu empreendimento, que não estava indo tão bem assim. E isso era o que mais me preocupava. Mesmo assim, pensei na minha saúde e na do meu filho, e resolvi deixar o emprego que tanto queria e que tinha acabado de conseguir. Eu costumo dizer que não tive depressão por saber que teria um filho e que isso não estava nos meus planos, mas, sim, pelas circunstâncias.
Algumas pessoas podem dizer: “Nossa, mas você devia ter tentado ficar mais um pouco no emprego.” Queridos, não tinha como. Dizem que gravidez não é doença, mas a minha parecia ser. Eram 24 horas vomitando e passando mal de todas as formas. Foram mais ou menos seis meses assim. Depois de ter ficado todo esse tempo me sentindo mal, eu realmente pude ter certeza de que tinha tomado a decisão certa desde o início. O pior para mim foi ter que enfrentar a escuridão, que no começo eu confundia com hormônios, porém no fundo eu sabia que não era. Eu tive dois grandes episódios com ela quando era mais nova. Foram duas crises que superei, juntei meus cacos e me reergui. Mas essa era diferente, estava tudo diferente.
Seis meses jogada numa cama, sem forças para fazer coisas básicas e simples, carregando o amor da minha vida, entretanto sem que eu pudesse ter ânimo para conversar com ele, cantar para ele, tocar para ele. A minha voz sumiu e, junto com ela, foi minha alegria, meu riso largo e minhas brincadeiras com a família. Depois de um tempo, vi que não eram só os hormônios, era a escuridão que morava comigo. Passei boa parte da minha gravidez dormindo, outra parte apática, outra parte tentando nos alimentar, sem que a comida voltasse. Foram tempos difíceis. Eu trago na memória minha mãe indo quase todas as noites no meu quarto, quando estava tudo escuro. Ela sabia que eu ainda não estava dormindo. Ela me contava histórias de como foi a gravidez dela com os três filhos. Às vezes, ela sorria contando; às vezes, chorava de emoção. Mas ela estava tentando me dizer: “Ei, está tudo bem, eu estou aqui com você, pro que der e vier.” Sempre que ela saía do quarto, eu chorava e pensava: “Amanhã vai ser outro dia, eu vou me levantar e agir.” Todavia, tudo se repetia, e eu me afundava em tristezas. Nas consultas, eu falava bem pouco, meu marido aprendeu, nessa época, a falar por mim e a se virar por mim. Tive alguns anjos na minha vida, que apareceram para me ajudar, mas quase nada me tirava daquela escuridão. Certa vez, minha mãe me chamou para conversar, e mesmo ela sabendo o que eu tinha, quis que eu falasse. Foi aí que eu desabei. Parece que falar em voz alta o que eu estava sentindo e também dizer como eu queria que estivesse sendo minha gravidez foi um divisor de águas. Foi a partir daí que tirei forças da onde eu não tinha, pra buscar ajuda psicológica e procurar histórias parecidas com a minha, de mulheres que tiveram depressão na gravidez. Chorei muitas vezes assistindo a elas no YouTube, em que encontrei algumas mulheres fortes que compartilharam algo tão íntimo. Ninguém quer ir à internet falar que estava com depressão na gravidez, que não conseguiu falar com seu filho durante a gestação, que tinha medo de não amá-lo ao nascer, entre outras tantas coisas. Mas elas tiveram.
Eu estou aqui, compartilhando um recorte da minha história, sobre algo que eu não queria que tivesse acontecido, contudo com a força suficiente para dizer: Não desista! Você é mais forte do que imagina e tudo isso, uma hora, vai passar.
Por Carimy Albuquerque @carimyyy
Revisão Angélica Filha