Ter virado mãe foi a decisão mais corajosa que eu já tomei na minha vida. Para caminhar com minhas próprias pernas e criar meu filho da maneira como acredito tive que me empoderar ainda mais como mulher.
Ser mãe é enfrentar diariamente, de cabeça erguida, amor no coração e persistência, os julgamentos de pessoas que não tem a menor noção da sua realidade, das suas dificuldades; é lidar e enfrentar o medo latente de algo acontecer com aquela pessoa que desde o momento que saiu da sua barrigada está longe da sua proteção integral; é chorar com notícias de coisas ruins que acontecem com crianças; é sentir na pele todo o peso que uma sociedade machista joga nas nossas costas: a exigência pela maternidade perfeita e sem sofrimentos (que não existe), o mercado de trabalho que não se adapta para receber as mães e nos marginaliza (apesar da sociedade nos incentivar a ter filhos desde que somos pequenas), é tentar voltar a estudar e não ter vaga na creche da universidade, é tentar o tempo inteiro mudar o papel do pai, que ainda é o da “ajuda” e não o de compartilhar as responsabilidades (que ainda são vistas integralmente pela figura materna, responsável pela criação – afetiva e financeira – e pelo desenvolvimento das crianças); é chegar no final do dia esgotada física e emocionalmente depois de correr o dia todo atrás de uma criança que não para um segundo quieta e ter que escrever os trabalhos da faculdade durante a madrugada, sabendo que você ainda vai acordar, numa noite boa, umas três vezes para amamentar e às 7h vai ter que estar de pé, de segunda a segunda, disposta a brincar com a cria (e vocês ainda me perguntam porque eu saio muito raramente).
É ver passar aquele show que você queria ir, porque não tem com que deixar o filho, ou aquela oportunidade de emprego, porque não tem como chegar há tempo de pegar a cria na creche. É ver suas amigas mães terem a maior dificuldade do mundo de se relacionarem novamente porque os homens são, em sua grande maioria, uns babacas, e seus amigos pais vivendo suas vidas amorosas normalmente.
É sentir falta de um corpo que não existe mais, é ver sua autoestima ir pro chão e muitas vezes não ter nem tempo pra fazer algo pra mudar isso. Mas é também sentir pulsar um amor indescritivelmente gigante! É chorar, por vezes, de felicidade e amor, ao ver seu filho correndo em sua direção com os braços abertos e um sorriso de dez dentes no rosto (e sentir todo o seu corpo sorrindo de volta).
É saber que, por mais esgotada que você fique, você é tudo para aquele pedacinho de gente. É ir contra, diariamente, todo o preconceito que existe nesse mundo – e dentro de você mesma – para que seu filho seja livre para ser quem ele quer, da maneira como ele quiser, pelo simples fato de desejar que ele seja feliz acima de tudo.
É se permitir voltar a brincar de coisas que você adorava na infância. É ir pra praia e voltar a fazer castelo de areia. É ser uma pessoa muito mais compreensiva, paciente e tornar a palavra EMPATIA o eixo norteador da sua vida – eu também não sei das dificuldades que outra mãe enfrenta.
É ver um monte de amigo ir embora por um lado, mas pelo outro ganhar alguns poucos, que mesmo que visitem você e seu filho com menos frequência do que todos gostariam, estão lá, para te ouvir, para te abraçar, para te socorrer quando precisar, que amam seu filho demais. É ver seu feminismo fortalecido por viver na pele toda a dificuldade que uma sociedade patriarcal incute na vida de uma mulher.
É se sentir agradecida pelas mulheres que te rodeiam, que apoiam, e ajudam a tornar a maternidade um pouco mais leve, com uma rede de apoio foda. É, por vezes, sentir orgulho de você mesma (e, no meu caso, do meu companheiro) pela maneira como cria o rebento. E é também aprender a aceitar esse corpo tão diferente de dois anos atrás, com cicatrizes, com flacidez, com estrias, esse corpo que suporta seus corres diários, que guardou sua cria, que ainda a suporta nos braços e a alimenta, acalenta e abraça.
A maternidade é essa capacidade da gente se reinventar, da gente renascer todo santo dia das cinzas do dia anterior, como uma fênix. Não é fácil? Nem um pouco. Mas é o desafio mais lindo que eu já enfrentei.
—
AUTORA: