Por mais que eu reconheça a individualidade de cada um e as mudanças significativas que aconteceram nos últimos trinta anos, achei que alguns assuntos sempre se repetiriam nas conversas de grupos de adolescentes, de forma atemporal. Drogas, por exemplo.
Então busquei me preparar para conversas sobre álcool, cigarro, maconha e outras drogas ilícitas.
Me atualizei sobre cigarros eletrônicos, pensei na melhor forma de me posicionar sobre drogas na adolescência e cheguei a imaginar conversas que eu e minha filha teríamos sobre o tema, com riqueza de detalhes.
Ocorre que o destino resolveu punir minha pretensão de me julgar capaz de me preparar para a adolescência de minha filha, então tudo vem acontecendo diferente do que eu previa.
Antes da transgressão com drogas proibidas pelos pais e pela sociedade, minha filha precisou iniciar tratamento com um tipo de droga sobre a qual eu nunca tive conhecimento ou experiência: remédios tarja preta.
Ao contrário da experiência com drogas que eu esperava, essas são receitadas por profissionais competentes, compradas pelos responsáveis e têm seu uso conhecido e fiscalizado pelos mesmos. Os efeitos colaterais são apresentados em bulas e assustam quem não é da área médica, como eu.
Meu desconhecimento é tamanho, que sequer consigo concluir se minha filha considera desejada a utilização destes medicamentos, pela sensação de bem-estar que costuma estar associada ao uso de drogas, ou se é uma obrigação penosa.
Desconfio que o caminho para encontrar respostas sobre o uso destes remédios está na maior compreensão sobre as questões que levam à necessidade destes.
Então, ao contrário de pensar no uso de drogas na busca pelo prazer, começo a pesquisar sobre o uso de drogas para cessação da dor. Assim, me aproximo de um universo bem mais sombrio do que eu esperava.
Talvez o futuro ainda nos reserve a transgressão do uso das drogas que eu já tinha catalogado como possíveis ou prováveis. A adolescência é um longo período cheio de surpresas. Por enquanto, preciso me adaptar à nossa realidade, em que a palavra “droga” assumiu significados inéditos e inesperados para mim.
Por: Márcia do Valle @marciadovalleescritora