Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Um porto seguro chamado lar

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Nos mudamos para o exterior por vários motivos. A ideia era vir, fazer o mestrado, que duraria dois anos, e voltar; simples assim, como se nada tivesse acontecido.

Chorei por uma semana quando chegamos. Morávamos em um apartamento de 15m², com duas camas de solteiro e somente um cômodo. Foi só durante um mês, mas como foi marcante aquele começo em terras estrangeiras.

Já estamos aqui há mais de 5 anos. Nesses 5 anos aconteceram muitas coisas. Me formei no mestrado, encontramos emprego, aprendemos alemão, pandemia, decidimos ter um filho…

Eu sei que é o grande sonho de muitas pessoas morar fora, ter uma vida mais segura, mais confortável trabalhando um pouco menos, um sistema de saúde eficiente, coisas que nosso Brasil não oferece à maioria de seus residentes.

Não me entenda mal, sou grata por tudo que conquistamos e pela vida que levamos aqui de uma maneira geral; não nos falta nada, o bebê tem toda assistência médica possível e escolinha de excelência por muito pouco dinheiro, não precisamos de carro para nos locomovermos, mas algo dentro de mim ainda chora todos os dias.

A vontade de voltar é enorme. A saudade da família, o reconhecimento acadêmico e profissional que por aqui praticamente não existe para mim e a falta de poder me expressar em minha própria língua, me matam um pouquinho a cada dia que passa.

E em meio a esse sofrimento me vejo padecendo de outro sentimento ainda mais forte: a culpa materna.
Veja, desde que minha filha nasceu já não sou mais a coisa mais importante da minha vida. Nada mais é. Só ela. Nada se compara com a prioridade inabalável que um bebê tem sobre a vida de uma mãe. Pelo filho largamos conforto, pátria, canudo. O primeiro e o último pensamentos do dia sempre são a criatura minúscula que geramos.

Me vejo diante de um dilema. Esse equilíbrio sensível e delicado que a partir do nascimento de um filho será eterno. Morar em outro país e proporcionar talvez uma qualidade de vida melhor ao pequeno, mas também tirá-lo do seio familiar e negar a possibilidade de que cresça com primos, amigos e parentes; dar a oportunidade de conhecer novos países, culturas e, ao mesmo tempo, tirar a língua materna de seu convívio social.

Afinal, acredito que o mais importante seja que não percamos nunca de vista a busca contínua pelo melhor para nossos filhos. Não importa onde estejamos, com quem, em quais condições de saúde, segurança; amar e dar segurança emocional sem querer receber nada em troca é o ponto crucial na criação de filhos.

Ter sempre a consciência de que o que nossos filhos realmente precisam é que, como mães e pais, sejamos para eles abrigo e porto seguro. Um cais para o qual eles saibam que sempre poderão voltar.

Autora: Ana Luisa Manfrin Teixeira – @analumteixeira
Revisão: Stefânia Acioli – @tevejomae

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