Diário de uma mãe Deficiente Visual

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Quando eu era pequena, sempre sonhava em ser mãe. Não sabia se conseguiria, mas a ideia de ter uma família, se apoderava do meu eu a cada despertar. Eu sou a filha mais velha de um relacionamento que hoje chegou aos seus 30 anos. Meus pais me tiveram depois de 3 anos de casados, e por conta de algumas complicações, eu nasci de 25 semanas; passei 2 meses e meio na UTI e por causa da dosagem alta de oxigênio que tomei, perdi a visão de ambos os olhos.

Meu pai, por sua vez, não conseguia nutrir a ideia de ter uma filha deficiente em casa e decidiu me deixar com a minha avó paterna. Mas, nós morávamos próximos deles e de minha irmã, que sempre me ajudou durante nossos momentos de lazer, e aprontávamos todas juntas. Eu fiz aula de piano, teclado, violino, toquei repique na banda mirim da escola, fiz balet, cantei no coral da instituição para deficientes visuais que eu frequentava, enfim eu não parava.

Até que me mudei pra Campinas e terminei o ensino médio. Conheci um moço super interessante e começamos a namorar desde 2007. Ficamos entre namoro e noivado 6 anos dividindo sonhos, dúvidas, decepções, medos, angústias, alegrias, conquistas, até que em 2013, nos casamos, e ambos queríamos ser pais. Mas ele tinha varicocele, que é uma deficiência com relação a sua produção de espermatozoides, e ele tinha feito 3 anos de tratamento na unicamp, para que assim tivéssemos o nosso bebê tão desejado.

Eu não me prevenia desde que namorávamos por conta desta questão, e durante os meus primeiros dias de casada, eu também não evitei. Queria ser mãe logo. Já havia me formado em psicologia, já trabalhava em uma determinada empresa a 4 anos, já estava casada.

Na minha opinião, esta era a hora certa!

O bebê só chegou 9 meses depois, em junho de 2014.

Para mim, foi um momento fantástico, inexplicável, lindo! Chorei rios e ele nada manifestou. “ops, mas ele não era assim! nós sonhamos juntos com esse bebê… eu fiquei em choque.”

e ele passou a:

não me acompanhar em nenhuma consulta e menos ainda no ultrassom. Alegava que por ser deficiente visual, não ia poder comparecer durante a realização do exame. Mas os médicos sempre descrevem o bebê para os pais e explicam como ele está, o que está sendo formado dependendo do estágio da gestação e etc. Mas, mesmo assim, ele bateu o pé e não foi.

quando descobrimos que a minha gestação era de risco, por conta do meu útero ser transverso, (é como se ele estivesse de trás pra frente), ele não me apoiou em nada. Eu precisei ficar de repouso, e ele não me levava um copo de água na cama. Mesmo sabendo que eu não podia fazer esforço, sendo que, na cozinha de casa, tem escadas.

todos os finais de semana, ele trabalhava até às 19:00 aos sábados, e dedicava o domingo a família dele. Me deixava sozinha em casa e ia pra festas, almoços, aniversários e etc., na casa de seus parentes, e sempre chegava irritado.

quando descobriu que eu carregava dentro do meu ventre um menino, disse que aquilo era um absurdo. Me mandou tirar, disse que não dormiria mais comigo porque já havia um homem ocupando aquela cama, e esse homem era o nosso filho!

Não suportando mais, eu o deixei na sala, e fiquei muito deprimida. Chorava todos os dias sozinha nessa casa. Sentia muitas dores, ficava na maternidade tomando soro, e ele nunca ia comigo. Quando nosso filho nasceu no dia 05/02/2015, ele não esteve por lá, e no dia seguinte quando visitou o bebê, não quis pega-lo.

Eu conversei, sugeri terapia, informei a família dele a respeito do que ocorria dentro da nossa casa, e ele só piorou. Sempre chingava o bebê que chorava anoite por conta de suas cólicas, nunca me ajudava, e quando meu filho tinha 4 meses de vida, ele foi embora.

Desde então, eu cuido dele sozinha. Hoje ele já tem 2 anos e 9 meses. O pai sempre vem visita-lo, e eu deixo, porque meu objetivo não é colocar o filho contra o pai. Quero que o João Lucas conheça o pai dele, através de suas experiências. E não somente se baseie naquilo que eu vivi com ele.

Eu sofri muito com o fim deste casamento, pois eu não esperava nunca que ele me abandonaria desta forma. Hoje em dia, eu peço força a Deus pra criar meu filho em seus caminhos, e tento esquecer essa história que ainda me machuca. E não sei se 1 dia eu vou encontrar alguém que nos ame e nos aceite. Sei que ele deixou uma super ferida dentro de mim, que graças a Deus está se cicatrizando. Eu não sou perfeita, mas amo meu filho acima de tudo, e vou lutar sempre em nome do bem estar dele!

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