Esse título fez minha caixinha de memórias se abrir em uma velocidade próxima à velocidade da luz. Me surpreendi ao perceber que foi, está sendo e será para sempre a minha maior aventura. Sei que parece clichê e é pra ser mesmo!
Percebi também como eu mudei por dentro e por fora. Quantas coisas fiz e quantas deixei de fazer. Quanta insegurança senti e quanta certeza eu vivi e tudo por conta da maternidade.
Dentro da caixa principal foram se abrindo várias outras caixas que havia muitas lembranças e tabus.
Quanta romantização havia dentro dessas caixas, mas entendi que todas foram sendo abertas, explodidas e debatidas, porém nem sempre compreendidas.
O mais interessante disso tudo é perceber que para criar um ser humano é preciso muitas caixas. Caixas que já existem e caixas que ainda vão existir, mas nunca deixando dentro da caixa o conteúdo sem diálogo e debate.
E está sendo assim que estou criando meus dois meninos, o de 17 e o de 10 anos, explodindo as caixas de tabus, preconceitos e inverdades.
Penso que é preciso tudo ser conversado da maneira mais sincera respeitando a opinião do adolescente em questão e de forma simples e segura. Afinal, pra mim, é importante deixar claro que ambos estamos aprendendo, dizer sempre independente da idade que criar seres humanos não vem com tutorial no Youtube.
Essa parte da matéria está sendo escrita ao som de ótimos forrós do saudoso Gonzagão, quem está fazendo o Acordeon chorar é meu filho de 10 anos. Sim,ele toca Acordeon de 80 baixos. Uau!!!
Só uma pequena observação de mãe solo que sabe que apesar de todo mal do patriarcado ainda consegue manter a doçura pra dizer. MEUS FILHOTES SÃO ÓTIMOS!!!
Fiz áudios, pensei, repensei escrevi e apaguei. Não sabia como escrever minhas vivências e experiências e, na verdade, ainda não sei, o que eu sei é que nós mulheres estamos precisando de voz, de espaço para sermos ouvidas, lidas e tocadas.
O adolescente em questão é o F. ele tem 17 anos! Estuda no Instituto de Educação de Nova Friburgo.
Tem o viço, o frescor, a juventude e a mocidade que todas e todos deveriam ter sem nenhuma diferença social e econômica.
O adolescente em questão é doce e azedo, bem e mal-humorado, feio e bonito, certinho e desalinhado, sonolento e desperto, criança, neném, adulto, sabido e ignorante, corajoso e inconsequente, sonhador e realista, conservador e moderninho, ateu e espiritualizado, seguro, imortal e inseguro e mortal, tímido e extrovertido, gosta de viajar, de ler, de namorar, sair com as e os amigos, gosta de boa musica, não bebe (diz ele), não fuma (diz ele), usa camisinha, é boa gente, bom amigo, bom irmão, bom filho, bufa bastante e tem calo na língua de tanto fazer tititi, sabe como?
Acho que o adolescente em questão filho daquela moça bissexual que tem um filho de cada marido, que é feminista de suvaco cabeludo, que pega ônibus lotado, que vive com aqueles meninos pra cima e pra baixo com sacola de compra, aquela moça que tem cabelo super curto e colorido, aquela moça que anda com facão na mão porque tem que sair de madrugada sozinha com os filhos… acho que os filhos dela são boa gente.
Na verdade, não tem receita pra criar seres humanos, mas eu tenho alguns princípios básicos que com os meu filhos parece que estão funcionando.
Pra mim o Limite é fundamental, a frustração é fundamental. Precisamos ensinar nossos seres humanos a se frustrarem e a estarem preparados para segurarem seus monstros interiores.
O respeito a si mesmo e ao próximo é incontestável, ensinar nossos seres humanos a respeitar as diferenças as adversidades e estar sempre ao lado do oprimido é pra mim de extrema importância.
O exemplo é importante, mas um exemplo de verdade sem preconceitos, tabus e limitações, um exemplo que realmente tenha como finalidade a felicidade e o bem estar dessa centelha de vida que chegou até nós.
O som do final da matéria se uniu ao final da matéria. Estou ouvindo somente o suspirar dos gatos, o suspirar do meu filho mais novo, o caminhar do cachorrinho do andar de cima, que fica sozinho o dia todo e quando chega essa hora ele começa a andar de um lado para o outro esperando sua dona, do vizinho da frente chamando os gatos pra comer. Som de vida correndo por fora da adolescência e dos seus dramas.
Viço, frescor, juventude e mocidade! Essa é a definição pura e bela da adolescência e seus dissabores.
Fica também meus desejos e anseios para que nossa juventude tenha direito a vida, que a nossa juventude não morra nas mãos do “azar”, que a nossa juventude seja livre de qualquer opressão para que possam gozar da vida plenamente.