O que o filme “Tallulah” tem a ver com maternidade compulsória? (contém spoiler) – Por: Jo Melo

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Asssiti a um filme este final de semana e logo pensei em escrever sobre ele. Em todo o filme não deixei de fazer algumas comparações sobre a maternidade e me identificar em alguns pontos com cada uma das personagens.

Pra quem não conhece, Tallulah é um filme de drama, sei qual o objetivo, mas essas personagens me chamaram a atenção e me remeteram à maternidade. O filme conta a uma pequena parte da história da vida de Lu, uma garota nova que vive num furgão e tem um namorado. Em uma das conversas, ele diz que cansou e que queria sossegar, ter uma casa e até filhos, ela desconversa e diz que está feliz com a sua vida. No outro dia, ele some com a grana dela e ela vai atrás dele na casa da mãe.

A mãe dele, Margo, uma escritora que é mãe, mas que o filho saiu de casa por causa da sua não conformidade com a separação diz que o seu plano era casar, ser mãe, mas infelizmente, os dois a abandonaram. A outra personagem que aparece, é Carolyn, uma mulher casada que está passando alguns dias em um hotel com a sua filha de um ano e pouco, quando Lu à procura do namorado perdido vai atrás de comida, entra sem querer na casa de Carolyn, que bem alterada acredita que ela seja uma camareira.

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Quando se entra na casa, percebe-se uma bagunça a criança sem fraldas, a mãe fumando e bebendo e achando que era camareira pediu para Lu olhar sua filha porque ela ia sair… todo o tempo, Carolyn, pede para Lu dizer se ela está bonita, fala que depois da gravidez seu corpo não foi mais o mesmo, diz que seu casamento é terrível, e uma das frases de Carolyn sobre maternidade que me fez pensar bastante foi: “Ninguém me fala como é, eu vejo as mulheres na TV, na rua, elas conseguem, e eu não sei como”. Depois disso, ela sai e Lu fica com a criança, cuida e a mãe dela algumas horas depois chega carregada e dorme, assustada com a situação, Lu sai e leva a criança junto e vai para a casa de Margo, fazendo acreditar que a criança é sua neta.

No desenrolar da história, Lu fala que foi abandonada pela mãe e que por isso, não queria ninguém dependendo dela e Margo diz que a menina dependia de cuidados.

Bom, eu pensei bastante nessas três personagens e conclui que elas têm algo em comum: a maternidade! Lu que não quis ser mãe se solidarizou com a criança, segundo ela, como foi abandonada,  não queria ninguém que dependesse dela, mas ao mesmo tempo nutriu um carinho pela criança, cuidando como se fosse dela.

E Carolyn, uma mulher que nunca quis ser mãe, mas engravidou porque achou que perderia o marido. Essa foi a personagem que mais me chocou, não pelo fato dela aparecer no filme como uma “desnaturada”, mas ela representa bem a maternidade como ela é, uma mulher que achou que a gravidez seria a solução do seu problema conjugal e viu que ser mãe nunca foi o que ela quis, ela não sabia fazer aquilo. Em uma cena, ela está conversando com Margo e diz que desejou que a filha dela sumisse, porque ela não sabia como era ser uma mãe, e que por desejar isso, ela se sentia um ser humano horrível (Alguém se identificou com isso?)

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Quantas vezes a gente sem saber o que fazer, desejamos ficar sozinhas, sumir, mas o peso da maternidade nos faz sentir mal por não querer aquilo, por ter aberto mão do corpo, da vida (que nunca é a mesma)? Em uma das cenas, o marido de Carolyn diz que ela é desleixada, inclusive uma das personagens que é do conselho tutelar, investiga o suposto sequestro, percebe que Carolyn não teria motivos para não querer sua filha. Inclusive, Carolyn pergunta para a policial que está grávida quantos filhos ela tinha, ela disse “esse é o terceiro”, ela diz, “mas como você aguenta isso?”, ela disse, “foi minha escolha”. Nesse caso, eles mostram que há mães que também planejam, que o fazem porque querem, e não por imposição.

Ao final, tudo sai bem, a criança é devolvida e na cena, Lu acusa a mãe de não querer a criança e Carolyn, aos prantos diz que queria sim. Tenho pra mim que nessa cena, a mãe se deu conta de que ela não odeia ou quer a filha longe, e sim, o fardo de ser mãe, de tudo o que ela perdeu e sofreu com o marido, de tudo o que ela viu na TV ser diferente da realidade dela. Então, Lu vai presa e Margo promete ajudá-la.

Pesquisei um pouco sobre o filme para escrever aqui, porque não lembrava algumas cenas, e todas as sinopses se referem a Carolyn como uma personagem ruim, aquela que não cuida da filha e não queria tê-la por perto e só me fez acreditar ainda mais na ideia que a sociedade espera das mães, elas não querem ver mães que reclamam, mães que querem um minuto de sossego, eles querem mães perfeitas, mães de comercial de TV, totalmente romantizada.

E por fim, o filho volta pra casa de Margo, e no final entende-se que ela vê sua vida além do ex marido e do filho, mostrando-se totalmente leve, e literalmente flutuando. Livre dessa condição.

Quem ficou curiosa, veja o trailler:

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Autor

  • Jo Melo

    É fundadora da revista Mães que Escrevem. Mãe solo e autista diagnosticada na fase adulta, é escritora, formada em Letras, com pós-graduação em Comunicação e Marketing Digital e em Jornalismo Digital, além de ser mestranda em Estudos Linguísticos na UNIFESP. Autora dos livros Hipérboles e Os Cinco Sentidos, também participou de diversas antologias. É membra da AJEB-SP e Imortal pela Academia Mundial de Letras da Humanidade.

    Instagram: [@jomelo.escritora]

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