Mulheres-mães protagonistas da própria história

Você gostaria que seu filho fosse gay?

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“Você gostaria que seu filho fosse gay?”

Esse são os questionamentos em debates onde se fala sobre sexualidade. Passei nove meses gerando uma criança,  lidei com várias dificuldades nesses nove meses, como falta de atendimento adequado no SUS, tendo que pagar médicos, exames, ultrassons, não tive pré-natal, simplesmente porque não havia médicos no postinho.    

Tive que enfrentar mudanças em meu corpo, instabilidade emocional, enjoos, falta de ar, pernas inchadas, noites mal dormidas, mais enjoos, mais falta de ar, depois enfrentei um parto as pressas, porque a criança estava agonizando.

Enfrentei negligência médica, muita violência obstétrica, enfrentei uma anestesia mal aplicada, e como consequência, uma cefaleia (dor de cabeça da morte, não há outra definição) durante 5 dias.    

Enfrentei os 40 dias de recuperação pós cesárea, enfrentei todas as dificuldades que é ter e cuidar de um bebê, as noites em claro, o cansaço, as fomes por falta de tempo, banhos, de 30 segundos, pessoas inconvenientes palpitando, comparando minha filha com fulano de tal, e enfrento, até hoje, a maternidade solo.    

Hoje ela tem 4 anos, 11 meses e 20 dias, e desde o dia em que  soube que ela estava sendo gerada dentro de mim, eu prometi que ia amá-la mais que tudo. Ela foi crescendo e eu prometi apoiá-la em tudo, ela cresceu, aprendeu a falar e me perguntou se eu amaria ela pra sempre e eu prometi amá-la independente de tudo e todos.    

Então sim, eu gostaria que minha filha fosse o que ela quisesse ser, o que faz ela feliz, e gostaria ainda mais que ela não precisasse se enquadrar em moldes pra ser aceita, que ela tivesse a liberdade de andar na rua sem ter medo de ser morta, ou estuprada, que ela pudesse andar de mãos dadas com quem ela amasse, sem ninguém olhar torto, que ela pudesse se vestir da forma que quisesse, sem ser julgada e apontada por essa bobeira, e que ela pudesse ir no banheiro da escola, sem ser agredida e humilhada e tudo isso independente do gênero e orientação dela.    

Porque eu não enfrentei tudo isso, pra depois abandonar ela na primeira oportunidade. Eu não tirei forças de onde não tinha pra educar essa criança com toda dignidade, pra posteriormente, ela se descobrir LGBT, eu jogar ela fora, junto com todo amor que prometi dar pra ela como se fosse um pacote de biscoito vencido.    

A única coisa que eu não gostaria mesmo que ela fosse, é mesquinha, preconceituosa, e racista. E estou lutando por isso.


Autora: Lalla Bezerra.

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