Mulheres-mães protagonistas da própria história

CONTO | E agora?

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E agora, o que a gente faz?

Como assim? O que a gente faz? Já passamos o roteiro, você já sabe o que fazer, pega o que tem que levar, olha no GPS a melhor rota e vamos. Não estou te entendendo.

É que, agora assim, não estava esperando, tudo indo tão rápido, tô me sentindo meio inseguro.

Mas você não pode se sentir inseguro agora, planejamos isso há tempos, não surta, por favor!

É eu sei, você está certa, vou pegar a chave do carro, por acaso você viu onde eu deixei?

Ué, você não colocou no bolso enquanto dava uma carga no celular?

Tem certeza? Não tá aqui não, ai, isso não vai dar certo, a gente precisa chamar alguém, eu não vou conseguir fazer isso.

Olha só, está aqui no blusão que você tirou pra ir ao banheiro, viu? No bolso. Fica calmo, vai dar tudo certo.

Está bem, então vamos, você precisa de ajuda pra entrar no carro?

Não, na verdade acho melhor eu ir por último, coloca a mala e a pasta com os documentos primeiro.

Ok, a mala e a pasta documentos. Pronto está tudo no porta malas. Ei, cadê você?

Vim ao banheiro.

Alô, oi João, tudo bem? Poxa cara, tá meio ruim pra falar agora, você pode me ligar mais tarde? É sim, está tudo bem, é que estávamos de saída, é sim, mano, mas tô meio nervoso, foi assim com você? É mesmo? Nossa, pesado essas coisas…

Vamos?

Poxa, João, vou ter mesmo que desligar, valeu o apoio aí cara! Desculpa, estou ajudando o João lá numas coisas do trabalho, você sabe né? Ele é super gente boa, me deu uma força quando comecei lá na firma e agora mesmo tava me contando…

A gente não pode ir falando sobre o João no caminho?

Putz, claro, desculpa, vamos lá, você tá legal? Tá tudo bem? Tá com o endereço aí, né? Que a gente planejou, mas ir de fato, só fomos duas vezes, e já viu, tem o trânsito, vai que tem alguma obra…

Ei, olha o foco, o endereço tá salvo no GPS. Vai, vai conectando e liga o carro que eu fecho a porta.

Como você pode estar tão calma?

Oras, uma hora a gente ia precisar fazer isso, não é algo que eu não estivesse esperando, enfim.

Você se comporta assim pra me humilhar, agindo como se não fosse nada de mais. Eu aqui aflito e você fica de ironia, poxa, a coisa é séria, é, não sei se a gente fez bem em dar esse passo.

É sério mesmo que você quer discutir relação a essa hora, sabe eu tô calma, mas não tenho controle sobre a situação toda, não estou sozinha. 

Desculpa, eu sou um grande babaca. É que estou nervoso, você está certa, vamos, a coisa já demorou demais, mas eu acho que vou precisar usar o banheiro de novo, aproveitar que você ainda não fechou a porta, tudo bem?

Tudo bem, te espero no carro.

Oi, agora estou pronto, passei uma água no rosto e respirei fundo, vamos lá. 

Assim que se fala! Vai dar tudo certo.

Só tem um quarto de tanque!

Fica tranquilo, tem um posto no caminho.

Tem certeza que você não quer chamar um Uber, eu não estou me sentindo bem, voltei a suar frio.

Vamos lá, quando o carro andar você vai se tranquilizar e a gente chega antes de você se dar conta.

Pra quem você está ligando? Tá tudo bem? Nossa que sorte, geralmente esse farol está fechado, hoje está verde. Você tem razão, dirigir me acalma, que bobagem eu ficar nervoso.

Alô, Seu Rui, aqui é Mariana, sua vizinha, posso dar uma palavrinha com a Dona Márcia? Oi, Dona Márcia, desculpa incomodar, será que a senhora pode usar aquela chave que a gente deixa aí quando viaja e fechar minha porta e o portão? É sim, a bolsa estourou e o Carlos acabou esquecendo de fechar quando saímos, muito obrigada!

Poxa, Mariana! Vou ter que voltar, esqueci minha carteira. 

Carlos, sua carteira está na minha bolsa, e se você não se acalmar e me levar para o hospital de uma vez eu juro que vou te colocar pra fazer meu parto dentro deste carro!

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