Coluna | Que sentimentos nascem com a maternidade?

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A maternidade nos vira do avesso. Ela nos leva a lugares internos que talvez nunca tivéssemos visitado antes. E, ao contrário do que muitos imaginam, esse avesso pode ser assustador e solitário. Junto com o bebê, muitas vezes também nasce o medo, a exaustão, a culpa e a sensação de insuficiência. A romantização da maternidade esconde o que muitas mulheres enfrentam diariamente: a sobrecarga física e emocional e a difícil tarefa de se reencontrar em meio a tantas mudanças.

A descoberta da gestação pode trazer surpresa e felicidade, mas também dúvidas e incertezas. “Estou pronta para isso? Como minha vida vai mudar agora?”. Os primeiros meses podem ser marcados por ansiedade e medo. O corpo muda, os hormônios oscilam e, muitas vezes, a mulher se sente sozinha, esperando ansiosamente para compartilhar a notícia, mas sem saber o que realmente sente sobre tudo isso.

A sociedade impõe uma expectativa de plenitude para a gestante, como se fosse natural estar radiante e conectada com o bebê desde o início. Mas a realidade pode ser bem diferente. O cansaço se acumula, as inseguranças aparecem e as cobranças aumentam. O peso de se encaixar no ideal de mãe perfeita começa a se tornar insuportável.

E então vem o parto. Um evento intenso, que pode ser lindo, mas também traumático. Nem sempre acontece como planejado e, para muitas mulheres, pode ser marcado por dor, medo e falta de acolhimento. O corpo, já esgotado pela gestação, agora precisa se recuperar, enquanto a mente tenta processar tudo o que aconteceu. A adaptação ao novo papel materno começa antes mesmo da mãe ter tido tempo de se cuidar.

O pós-parto pode ser um período de profundo isolamento. O cansaço, a privação de sono e a responsabilidade de cuidar de um ser tão frágil podem ser avassaladores. O bebê chora e, muitas vezes, a mãe chora junto, sem conseguir explicar o que sente. A tristeza vem sem aviso, a culpa se instala e o pensamento de “eu não sou suficiente” pode surgir a qualquer momento.

O mundo espera que a mãe se entregue completamente ao bebê, deixando de lado suas próprias necessidades. Mas a maternidade não deveria significar o desaparecimento da mulher. A exaustão e a sobrecarga não são sinais de fracasso, mas sim de que algo precisa mudar. Nenhuma mãe deveria passar por esse turbilhão sozinha.

Se você sente que a maternidade está sendo mais difícil do que imaginava, saiba que não é fraqueza pedir ajuda. Você não está sozinha. Suas emoções importam. Você não precisa dar conta de tudo sozinha. Permita-se falar sobre o que sente, sem culpa, sem medo. Maternar não é um caminho fácil, mas não precisa ser um caminho solitário.

Se acolha. Se cuide. Você também importa.

Autor

  • Paula Alves

    Paula Alves é psicóloga de gestantes - CRP04/31469, mãe da Maria Cecília e é especialista em Psicologia Perinatal e da Parentalidade, com mais de 15 anos de experiência. Atua no acompanhamento psicológico de gestantes e mães no pós-parto, além de ser docente em um curso de formação de doulas. Acredita que maternar não deve ser sinônimo de solidão e que falar sobre saúde mental materna é fundamental. No Instagram, compartilha reflexões e conteúdos sobre o tema: [@paula.psiperinatal].

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