Escolha ou imposição? Adiamento da maternidade e a relação com a necessidade da “escolha” única das mulheres

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Ser mulher é enfrentar um mundo que, a todo momento, dita o que você deve ser. Mesmo nas decisões mais rotineiras e cotidianas, as mulheres ainda sentem o peso de uma amarra invisível – camuflada de liberdade.

Nos últimos anos, o adiamento da maternidade tem sido um fenômeno crescente, especialmente entre mulheres que buscam estabilidade financeira, ascensão profissional ou, simplesmente, mais tempo para si antes de assumirem a responsabilidade de um filho.

Segundo estudos recentes da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos (Seade), o número de gestantes com mais de quarenta anos subiu mais de 64%. Esse crescimento reflete uma tendência global: as mulheres estão tendo filhos cada vez mais tarde, muitas vezes, não por escolha, mas pela falta de condições para conciliar maternidade e carreira. Esse dado pode ser interpretado como reflexo de uma escolha pessoal e empoderada, mas também precisa ser analisado sob sua dimensão estrutural: essa postergação pode ser menos uma opção livre e mais um reflexo das limitações impostas às múltiplas possibilidades de ser mulher.

Ao mesmo tempo em que o adiamento da maternidade grita aos sete ventos “agora eu posso escolher”, ele sussurra pelos cômodos da casa “eu não consigo ser tudo isso”. As mulheres, ainda envoltas na visão histórica da maternidade “natural” e inquestionável, seguem sendo cobradas por conciliarem seus “vários pratinhos” – mãe, profissional, acadêmica – e, por mais chocante que isso pareça aos olhos de quem não entende de pluralidade, serem excelentes em todas as funções.

Trabalho e maternidade: um equilíbrio impossível?

Na lógica contemporânea do trabalho, as mulheres são questionadas constantemente sobre sua dedicação e eficácia. A licença-maternidade, as faltas inevitáveis para cuidar dos filhos, as preocupações e a reformulação da produtividade pós-maternidade são lembretes constantes de um caminho não linear que encurrala mulheres e as faz questionar se realmente podem ser ótimas em funções maternas e profissionais.

Escolher entre investir na carreira ou se tornar mãe carrega um peso emocional desigual. Ainda recai sobre as mulheres a necessidade de uma decisão que não precisaria ser tão extrema. O tempo é implacável: elas correm contra um relógio biológico enquanto tentam consolidar suas carreiras em uma corrida tão desigual quanto injusta.

A falta de creches com horários flexíveis, a ausência de políticas de inclusão no trabalho, a divisão desigual das tarefas domésticas e parentais – tudo isso grita que ser mãe, na estrutura social atual, significa deixar de lado a profissional que um dia se foi (ou que se desejava ser).

A maternidade deveria ser, de fato, uma escolha. Mas até que ponto as mulheres estão adiando um sonho, um desejo, uma vontade, para serem o que precisam ser – ao invés do que poderiam ser, ainda que fossem mães?

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SOBRE A AUTORA

Maitê Guimarães – ainda não é mãe, mas admira a potência dessa possibilidade! Bacharela em Direito, mestranda em Administração (PPGA/UNIPAMPA) e pós-graduanda em Gestão e Estratégia. Pesquisadora da temática Maternidade e Trabalho (Bolsista CAPES). Gaúcha da Fronteira da Paz, apaixonada pela escrita e pela pesquisa sobre as complexidades do universo materno. Encontrou na Revista Mães Que Escrevem um espaço para expressar os anseios de quem observa, “de fora”, um mundo que ainda impõe barreiras a uma das experiências mais potentes da vida: a maternidade.

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