O sexo ainda é tabu nas famílias de meninas. Essas não são educadas, nem informadas sobre aspectos importantes da sexualidade para não as encorajar a ter relações sexuais, quanto mais tarde melhor (ideia de que mulher tem que ser recatada e do lar, casar virgem e etc). Diferentemente do que acontece em famílias onde há filhos homens, esses (por serem homens) e logo terem “instintos”, vão ter relações de qualquer jeito e há um encorajamento por parte de seus pais, avôs, irmãos mais velhos e, eu não diria uma educação, mas pelo menos o assunto sexo é mencionado.
Retomando, meninas se ouvirem sobre o assunto, colocarão na prática. Homens já tem um gene que os fazem praticar naturalmente?
Como é que algumas pessoas não percebem a (ir)racionalidade disso?
A parte disso, e abstendo das ironias contidas no asserto acima, meninas farão sexo, e muitas vezes sem instruções, nem informações corretas, nem educação concretizada, porque nem o seio familiar, nem o ambiente educacional convencional darão esse suporte. Meninos farão sexo sem as mesmas instruções ou educação, apenas com a visão que lhes foi passada, muitas vezes objetificando o corpo feminino e sem o mínimo de respeito e responsabilidade.
Consequências? DST’s e gravidez indesejada.
Aí começa a agravar o problema: há gente demais querendo mandar sobre o corpo dessa menina/mulher. Caso ela não queira esse bebê, elas simplesmente não têm a opção de eleger sobre o próprio corpo. Meninas que não foram instruídas corretamente. Mulheres, que por N motivos, têm uma gravidez indesejada, não podem optar pelo que fazer com o seu próprio corpo. Isso, em pleno século XXI, é no mínimo inadmissível. Nenhum argumento é válido – nem religioso, nem pró-vida, nem científico – cada um deveria ter plenitude do que fazer com o seu próprio corpo.
E aí, em meio a toda essa discussão, esquece-se do outro fator, os outros 50% que concretizaram essa situação: Onde é mencionado/julgado/cobrado o pai da criança?
A maioria das crianças hoje em dia, sofre aborto paterno, ou alienação parental. Isso é gravíssimo, mas sabe qual é o pior dessa situação? Isso é aceito, encoberto e justificado pela sociedade. Isso é no mínimo um absurdo.
A lei que proíbe a mulher de fazer o que bem entende com o SEU PRÓPRIO CORPO. Não decidir sobre o corpo de ninguém, mas decidir sobre o seu próprio corpo, é a mesma que enfatiza e viabiliza o aborto paterno e alienação do pai. Choquem.
Retomando, a menina (princesa) nasce, é colocada no pedestal da Virgem Maria, educada pra cuidar de filho e marido (observem as brincadeiras que são induzidas as meninas), quando estão na pré-adolescência não tem liberdade para falar sobre sexo (algo naturalmente biológico tanto no corpo feminino, quanto no masculino – homem não tem predisposição a nada, inclusive a mulher tem um local exclusivo pra prazer durante o ato, pasmem vocês), engravidam na adolescência, ou contraem uma doença, ou são abusadas e nem ao menos sabem, porque nunca ninguém lhes falou sobre sexualidade. Ou a mulher, por qualquer motivo que não nos cabe, engravida, e não quer manter a gravidez, é impedida de abortar. O pai continua sua vida normalmente, talvez registre a criança, talvez não. Talvez visite ela quando possa, talvez não, talvez mande uns trocados pra comprar algumas fraldas, talvez não, e está tudo bem – não há lei que o proíbe de fazer isso, não há punição pra isso e não há pessoas cobrando nada contra isso. E a mulher não pode exercer o livre arbítrio que lhe foi dado, nem sobre o seu próprio corpo.
Nem vou entrar nos méritos dos países que legalizaram o aborto, nem em questões de que o fato de legalizar não significa que todas farão e que a criminalização não extingue os clandestinos e não previne nada. Isso é falado o tempo todo em todos os lugares. Mas se fosse possível propor uma medida imediata, além da legalização do aborto, com certeza seria a criminalização do aborto paterno e da alienação/situação cômoda que se encontra os “homões da porra” de hoje em dia.
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Autora
Caroline Cristina Vaz, 25 anos, turismóloga, mãezona solo do Lorenzo Augusto, umbandista praticante, que não faria um aborto, mas que é totalmente contra a sua criminalização e a submissão da mulher seja em qual aspecto for.