Logo quando nascemos nos designam um gênero, que nos é imposto, delimitado, para que não nos reste dúvidas: esse é o seu lugar no mundo. Nos desumanizam e rapidamente decidem o que devemos comer, vestir, com que tipo de pessoas devemos nos relacionar, onde podemos estar.
Ainda cedo, aprendemos a castração no espelho, na cor da pele, no cabelo, no estereótipo enaltecido, na identidade negada. Você é gorda ou magra?
Somos castradas das “liberdades”, como ir e vir, como queremos, na hora que queremos. E por acaso, não tenho eu direito a cidade?
Quando mães, já no começo da vida, nos tiram tudo: o direito de escolher a forma de parir, insinuam que nosso leite é fraco, porque há uma indústria que investe forte na desesperança e, nessa seara, as nossas frustrações só avançam…
Quando a maternidade não é desejada, insistem em nos fazer acreditar que somos incompletas, ignorando o fato de que ela, a maternidade, é socialmente construída. Mas então já nascemos inteiras? Pasmem!
E depois de nos tirarem tudo, a estima, a confiança, a segurança, a leveza, depois de nos embrutecerem para aguentar o tranco do dia-a-dia, nos cobram doçura e compreensão, esperando que a gente dê conta de carregar, em colunas eretas, o peso desse mundo cão.
E então, lhes pergunto: e eu, não sou também humana?
Ouço, na omissão dos gestos, no que se cala, a resposta: os critérios de humanidade são meus e eles são seletivos. Assinado: Patriarcado.
Mulheres não deveriam ter que resistir tanto assim… Mas existe, dentro disso, um outro caminho pra mim?
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Autora: Alessandra Oliveira
Preta, feminista, especialista em Yoga, estudante das questões de raça e gênero e mãe da Luiza.