Mulheres-mães protagonistas da própria história

12 meses depois

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O bebê já vai fazer um ano. Já quase não é mais bebê, tem carinha de menininho, já se entende como gente. E eu estou muito, mas muito longe de ser infeliz.

Tenho um marido presente, dedicado, que ainda se lembra de me dar carinho e atenção no meio do turbilhão que veio junto com o bebê. Tenho um trabalho que não é perfeito, mas me dá acesso a muitas coisas que nem sonhava em ter, um chefe que me disse de cara, com todas as letras, no meu primeiro dia depois da licença, que a prioridade dele agora era o bem-estar do bebê. Vida boa, né? É sim, eu sei que é.

Mas ainda tem dias que eu só queria dar uma pausa. Colocar tudo isso numa caixinha, por algumas horas que sejam, e desligar. Resgatar a versão de antes.

Eu sei que tenho motivos de sobra pra ser feliz. E juro, eu não quero reclamar, não é essa a intenção. Mas é solitário ser a única que entende.

Eu não tenho opção. Se tivesse, eu acho que não escolheria diferente, mas ter opção às vezes é tão reconfortante. Eu sei, marido ajuda muito. Mas ajuda com minha orientação. Eu é que tenho que controlar tudo. Horários, ingredientes, temperaturas. Se eu não lembrar da hora da última refeição, marido não vai estar preocupado com isso. Se eu tirar uma soneca de tarde, o remédio não será dado. Se ele arrumar a bolsa da escola, bebê vai ficar sem banho porque não mandaram a toalha. Quando vai lavar a louça, sempre pergunta onde está o detergente, a bucha, onde guarda isso aqui.

Eu sei, não é maldade, não é por falta de atenção. Marido nunca teve essas responsabilidades, não foi ensinado a ter esse controle. E aí vai ter um monte de coisa misturada, a criação dele, a sociedade que a gente vive, as “coisas de homem”, muita coisa entra no meio.

Mas, no fim, por mais perfeito que ele seja, por mais atencioso, ainda fica esse ressentimento. Porque o meu coração, a minha mente, a minha rotina, gira em torno do bebê. Eu passo o dia, a semana, os últimos doze meses, contando minutos, controlando cada pequena coisinha pra ter certeza que vai dar tempo de fazer tudo. O marido se preocupa, é verdade, mas ele não tem essa carga emocional de ter que equilibrar tudo, a todo momento.

Eu queria dar uma pausa, por um dia só. Não ter que definir a lista de compras, encontrar o almoço pronto, brincar com o bebê sem ter que prestar atenção se o nariz está sujo, não ter que responder todo dia as 20h que sim,  que está na hora do bebê dormir. Queria, por um dia só, ser a pessoa que segue as orientações, que faz as perguntas, que só executa. Porque orientar, ter todas as respostas e planejar todos os minutos cansa, enlouquece.

Como vou ensinar o bebê a dividir isso com as mulheres que ele vai encontrar na vida dele, a ter essa preocupação conjuntamente, a ser essa balança? Difícil, né? Nossa sociedade é muito eficiente em deixar as mulheres responsáveis por esse gerenciamento, tão eficiente que até nós sentimos dificuldades em abrir mão do controle, não confiamos na habilidade do outro e assumimos tudo pra evitar falhas.

Ainda tenho muito a aprender, como mãe de menino. Será que eu vou saber ensinar o bebê a ser esse homem, a ter todas a proatividade e senso de responsabilidade que eu vivo cobrando?

Autora

Fernanda Ribeiro, 33 anos, mãe de um lindo menininho de 1 ano. Administradora, no trabalho e na vida, e especialista em aproveitar intensamente cada momento!

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