Por Bianca Obregon – @biancaobregon
O silêncio dói. Ou a ausência de som. Quando sinto o calor do sangue descendo, meu coração acelera, meu corpo todo estremece, começo a suar. Será que pensei o suficiente?
Essa pergunta pode durar o resto da minha vida, se repetindo infinitamente, e ser o último pensamento antes da ausência de consciência. Mas prefiro me agarrar à ideia de que isso seria o certo a se fazer. Para mim, é o melhor. Eu deveria pensar em mim agora? Outra questão da mulher.
São frases que, quando analisadas pela interpretação literal de cada palavra, o sentido se esvai. Não faz sentido, ou o sentido não deveria servir para a conduta moral dentro de mim. Porque eu não deveria pensar em mim?
Tento focar nas coisas que acredito, e confiar nas convicções tiradas do que li. Aliás, li tanto nestes dias, e não eram histórias bonitas, ou ao menos o recorte feito não era da parte bonita daquelas histórias.
A curiosidade de quem termina um conto, invade minha mente. Onde elas estão agora? Como elas estão? Proliferam-se os questionamentos acerca de detalhes mal explicados nos trechos lidos.
Quando eu tiver minha própria história, vou escrever tudo com detalhes, pensei. Algum tempo já se passou, e até agora não escrevi nada em detalhes. Não escrevi nada.
Nesses momentos de ausência da palavra, é como se eu não existisse, mas dessa vez é diferente, porque consigo me enxergar depois de anos de cegueira. A lucidez cobriu ou descobriu meus olhos? Há coisas que tu passa e, a partir delas nunca mais será a mesma.
Achei que estaria preparada para sentir dor, a dor física e o incômodo insuportável em meu corpo. Mas preferi não imaginar a dor psicológica, tentei adiar o sofrimento, ou sofrer por medo de que as coisas dessem errado. E quando tudo “dá certo”, ainda assim não há motivos para comemorar.
A ferida dentro de mim, é como um buraco que me parte do útero ao coração. Agora sou vazia? No fundo, enquanto escrevo tais palavras, eu tenho a certeza de que não sou vazia, e que ainda sou amor da cabeça aos pés, como cantaram os novos baianos. Mas porque tive tanto medo de amar?
Poderia discorrer sobre isso por horas, debatendo sobre política, sociologia, história, filosofia e o que mais tivéssemos a compartilhar. Há muitas desculpas da qual poderia me apoderar, e das quais já me apoderei para poder tomar tal decisão, sei que não foi medo de amar.
Entretanto neste momento não quero justificativas, apenas quero desenrolar esse emaranhado de sentimentos, que embaralha as palavras.
Trago no peito costurado, um sentimento de ser completa, de tomar banho e sentir meu corpo transbordar vida. Não tenho medo do que fiz, não mais. Eu continuei viva afinal, para contar minha história, e escrever tantas outras mais. “O tempo é sua morada”, a música já ecoava dentro de mim, muito antes de conhecê-la.
Peço perdão a deusa mãe-terra, mas agora enfim posso enxergar com clareza. Como se durante anos um véu cobrisse meus olhos e não pudesse mais saber quem sou. Agora eu vejo, a beleza de cada sopro de vida, em mim, no mundo.
Peço perdão a deusa mãe-terra, por ter desrespeitado meu corpo-templo, e ao mesmo tempo peço perdão a mim. Não me culpo, pelo contrário, desculpo-me.
Ninguém pôde sentir no meu lugar, a alma e o corpo sangrar com tamanha intensidade, por mais que tentassem. Carrego em mim a coragem de seguir, escrevendo e conhecendo histórias, e como uma boa escritora me pergunto: que história eu deixei partir? Tudo bem, o mundo é dos curiosos, dos inquietos, não há problema em questionar.
Encaro minha caminhada e agradeço a oportunidade de chegar até aqui, sei que muitas de nós não puderam contar suas histórias, suas decisões as mataram: não temos a opção de decidir.