Imagina você sentir todo o seu corpo diferente e não saber explicar o por quê. Os seus seios doem um pouco mais que o normal, o instinto sobre todas as coisas que sempre está ali grita que algo mudou, suas emoções ficam difíceis de controlar e você sente, lá no fundo, que o que mudou é eterno.
Você vê as duas listras na fitinha e pronto, é isso: vai gerar uma vida. E não só gerar, mas se responsabilizar. Você tem que educar, manter financeiramente, tentar mostrar o caminho correto quando você mesma errou tantas vezes nas suas escolhas, e ainda torcer para que o mundo não seja tão cruel como foi com você. Precisa escolher as roupinhas, lavar e passar cada uma com perfeição, e é isso. Bem-vinda à sua nova vida.
Esses foram os meus primeiros pensamentos enquanto assimilava o baque. As pessoas me falavam de creme para estrias e de aproveitar para dormir agora, mas eu só conseguia pensar em como é completamente louco uma vida estar dentro de mim. Onde eu termino? Onde ela começa?
Lembro de que muitas pessoas ao descobrirem minha gravidez ficaram espantadas: “Mas logo tu? Sempre te achei tão livre!” como se de repente a vida que crescia em mim não fosse sagrada e milagrosa e incrível, mas sim um fardo, uma amarra no chão.
Essas mesmas pessoas esqueceram que liberdade é momento. E tive grandes momentos até aqui, assim como espero que minha filha tenha. Cada vez que precisei fazer uma escolha, fui livre. Cada vez que escolhi minha própria roupa, fui livre. Quando decidi me afastar ou ir embora de relações, eu estava de mão dada com a minha liberdade. Detestei o rótulo. Foram grandes momentos de intensa tristeza. Eu queria sumir. Não aceitava perder algo tão inato.
O primeiro grande passo do gestar: o autoconhecimento de ser mãe. Intenso, extremamente solitário, doloroso e te sacode por inteiro. O mundo todo espera tantas coisas.
Tenho certeza de que serei muito mais do que aquilo que esperam de mim. E além dessa certeza, tem dias que a ansiedade de descobrir quem eu serei além do maternar me consome. Espero conseguir passar adiante meus valores com tanta clareza que minha filha não vai ser única apenas no nome, mas todos que olharem saberão que ela foi criada por uma mulher forte e determinada, pois apenas isso vai explicar a luz que ela irradia.
Cheguei aos oito meses sem ouvir muitas coisas negativas. Ainda bem, porque não saberia lidar. A idade não me afetou em nada. E daí que sou nova? Sempre fui capaz de tudo. Não sou menos capaz agora que me tornei mãe, muito pelo contrário. Se antes meu sangue já fervia por ir ao encontro dos meus ideais, agora então, eu sou só reação e força.
A maior lição que deixo pra quem já foi pega de surpresa com a maternidade é: nós seres humanos somos feitos de conexão. Não sabemos existir sozinhos. Aprendemos com o erro do outro, com o abraço que acolhe, com o conselho que nos faz acordar para a vida.
Eu estou passando e criando um novo ponto de conexão no Universo, não sou menos que divina.
Autora: Pâmela Maciel
Este texto foi revisado por Arícia Olíveira.