Sobre mães e o poder da escrita: uma crônica sobre escrever ou dormir

Sobre mães e o poder da escrita: uma crônica sobre escrever ou dormir

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Nunca pensei que seria tão difícil retomar a escrita. Às 22 horas ela dorme, aconchegada no meu peito. É hora de tomar uma decisão: dormir ou levantar para escrever?

Os poucos textos publicados mostram que o cansaço e o sono acabam vencendo na maior parte das vezes. Mas hoje levantei. Talvez pela euforia que a escrita causa em mim, o sono ficou em segundo plano. Penso e tento encontrar algo que possa me render um texto, uma crônica qualquer para causar o sentimento de completude quando finalizada. Mas não, as ideias não chegam mais com tamanha facilidade como antes.

Percebi que esse tempo entre gerar uma vida e descobrir quem eu seria a partir de então, fez com que eu abafasse muitos sentimentos que agora encontram dificuldade em tomar a forma de palavras. Amanhã provavelmente eu tenha que escrever.

Todos os dias tenho feito isso. Escrevo o quanto sou obrigada, mas sinto que nunca é o suficiente. Escrevo sobre o que preciso, mas as palavras só formam um punhado de frases prontas e sem sentido. Não sei onde foi parar o sentimento, o peito aquecido ao colocar no papel tudo que parecia emaranhado nos meus pensamentos. Algo se perdeu nesse caminho.

Quando estava grávida, eu ainda pensava que uma hora, mais cedo ou mais tarde, meu corpo voltaria a ser só meu, a rotina voltaria ao normal, minhas roupas voltariam a me servir. E aí ela nasceu. Aos poucos eu fui percebendo que ser mãe acarretava mudanças muito maiores do que eu esperava.

Agora ela já tem um ano, e tudo tem se ajeitado de uma forma muito mais tranquila. Nós passamos dias muito agradáveis juntas, brincamos, jogamos bola, pegamos livros na biblioteca, lanchamos, pintamos, passeamos. A vida tem voltado a ser leve. Sem todo o trabalho exaustivo de cuidar de um bebê em tempo integral, abrindo mão das refeições, tomando banhos curtíssimos e acordando de duas em duas horas.

Mesmo com toda essa reconfiguração nas demandas que ela exige de mim, ainda assim não sinto que voltei ou voltarei a ser a pessoa que um dia fui. É impossível. Agora sou mãe e nunca mais verei o mundo da mesma forma.

Não me arrependo das minhas escolhas, nem da minha maternidade. Foi uma parte da minha vida que sempre quis construir e poder dar a vida a uma pessoa é uma experiência inexplicável. Talvez seja por isso que é tão difícil descrever a maternidade, causando tanto silêncio sobre o assunto. Gerar e cuidar de uma vida nos muda de uma forma tão significativa que sinto necessidade de me conhecer de novo. Quem serei a partir de agora? Esse sentimento é amedrontador, ao passo que liberta.

Em meio ao caos que a maternidade traz para as nossas vidas, temos a chance de reescrever nossa história. É por isso que voltei a escrever. Acredito que não há nada mais poderoso do que uma mãe tendo consciência do valor de suas palavras. Por hoje, voltei a escrever. Uma mãe que rompeu o silêncio solitário da maternidade. O cansaço não me venceu…

Por: Bianca Obregon – @biancaobregon
Revisão: Stefânia Acioli – @tevejomae

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