Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Exaustão emocional. Reveja as fotos de família

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Há rostos felizes na foto, mas não é o rosto da mãe.

A expressão da mãe carrega preocupação. A tarefa da escola, a hora da natação, o lanche precisa ser mais saudável. Já viu essa pintinha nova debaixo do cotovelo no braço esquerdo? Trouxe água, trouxe lanche, trouxe gibi e protetor solar. Nunca se sabe o que vai precisar. Trouxe o analgésico também, pois constantemente parece que a cabeça vai estourar. Pegou o casaco, a chupeta e o antialérgico pra garantir. Não esqueceu o celular (que vitória) e chegou inteira até ali.  

O prazo para colocar o nome na lista é hoje, mas de onde é a bendita lista? Ela não lembra. Perdeu o dia da festa da escola e ainda não decidiu se arranca ou trata o dente de leite que tem uma cárie, porque tem que decidir isso ainda antes do café? Quem vai fazer o café? Comprou o pó do café? Eita, que desatenção! A memória não anda das melhores.

Há rostos felizes na foto e a mãe está pensativa. Se está tudo certo, tem algo errado. Um, dois, três… conta as crianças outra vez. Pede silêncio, pede sorriso, pede calma, pede um tempo, pede espaço, pede voz, pede ARREGO. Alguém aguenta? Pede tudo outra vez. Está aguentando, está se saindo muito bem até. Motive-se, diz a influencer às 6h da manhã, mas ela não encontra essa tal motivação. Onde vende?

Há rostos felizes na foto, a mãe, no entanto, mostra algum pesar. Andou consultando uns livros, umas amigas e uns gurus. Alguém precisa explicar! Como a sogra conseguiu com dois a mais e sobreviveu pra contar, pra apontar, pra desafiar. A vizinha já disse que o problema é ela que não sabe lidar, o marido anda ocupado e prefere deixar pra lá, a mãe mora longe demais pra ajudar. Na hora do desespero é chorar, orar ou tentar. Tentar, tentar, tentar. Pode desistir já? Está irritada com tudo e não pode mais reclamar.

Há rostos felizes na foto, pois a mamãe acordou cedo, passou as roupas mais bonitas, trançou cabelos e caprichou no gel. Os sapatos estão brilhantes e as meias combinam. Deu dor de barriga, mas quem tem tempo? Senta, levanta, senta, levanta… não sai. Vai sem fazer, enfezada e atrasada, o intestino não quer colaborar e as crianças estão prontas, já. Então, deixa pra lá.

Ela não ajeitou o cabelo, não pintou as unhas. Melhor esconder a mão atrás de alguém. Faz tempo que não pensava sobre suas próprias sobrancelhas, esquecera que as tinha, até agora. Como será que estão? 

 Está triste, pois se programou a semana inteira para comprar ao menos um batom e, quando foi ao shopping, trouxe de curativos a batata Pringles, passando por rodas novas para patins, mas não lembrou de si mesma. Outra vez. E a fotógrafa repete: Sorria, mamãe. Nada de apatia!

  Há rostos felizes na foto, mas a mãe parece cansada. Suas olheiras estão acumuladas e ela já nem sabe se são da febre de 3 meses atrás, da tosse dessa noite ou da ansiedade que não a deixa dormir em agosto pensando nos presentes de Natal. A cabeça não para, os olhos e os ouvidos não param, a boca não para, mas o coração está a ponto de parar. 

 Leu algo sobre exaustão emocional um dia desses e na lista de sinais parecia estar lendo um diário. Olha eu! É exaustão, então… que bom, pensei que estava doente. 

 E não é que é dá pra tratar?  Dá pra evitar, dá pra se reinventar!

A exaustão pode levar ao adoecimento. O excesso de cobranças está tão enraizado em nossa maneira de ver a maternidade que a fadiga extrema muitas vezes é lida como absolutamente normal e a mãe acredita que vai passar. No entanto, o dia a dia estressante não é saudável e não pode ser normalizado. O desgaste físico comum depois de um dia cansativo ou uma noite mal dormida é compreensível, mas a sensação de constante cansaço e mal-estar desde o acordar até o fim do dia, não é.

 A exaustão emocional é muito mais difícil de avaliar e contornar que a exaustão física, pois mesmo com muita informação as pessoas ao redor da mãe não conseguem identificar o que está acontecendo se esta não estiver disposta a falar sobre o assunto. Infelizmente, muitas mulheres não falam sobre o que sentem para não parecerem “mães ruins” como se suas vulnerabilidades fossem sinais de fraqueza e ineficácia enquanto cuidadoras responsáveis pela criança. 

 Os sinais estão nas fotos, estão nos textos, nos suspiros, no arrastar dos chinelos, no desânimo, nas dores, no esquecimento, na irritabilidade, na constante repetição. Olhe com atenção para a mulher ao seu lado. 

 A psicoterapia é a melhor ferramenta para auxiliar na interrupção dos ciclos de exaustão, além disso, ter algum lazer, tempo ao ar livre, atividades físicas e descanso, a rede de apoio eficiente e disponível, são essenciais para que a mãe esteja bem! Não só na foto de família, mas na vida.

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