No texto de introdução dessa série, pontuei dois temas que seriam destaque da nossa jornada: saúde mental e maternidade. Busquei alertar para o fato de serem temas complexos e difíceis de serem tratados de forma objetiva e superficial. Inclusive, foi a partir disso que decidimos fazer uma série de textos.
Percebi, ao longo das postagens, que as pessoas buscam informação da forma mais rápida e prática possível. Em tópicos, manchetes, imagens, nos contentamos com o que é estampado em nossas caras sem nos atentarmos ao real valor da construção de uma informação, o aprendizado. Foi isso que buscamos realizar aqui, uma série de textos para desenvolvermos base sólida para o conhecimento.
Sendo assim, chegamos no texto que vai de encontro com o título da série, o tema em si. Porém, vale a pena ressaltar que todos os outros textos são essenciais para a compreensão deste. O conhecimento não se adquire, se constrói, peça por peça.
Para começar, é preciso retomarmos o que falamos no texto passado, sobre o Transtorno de Personalidade Narcisista (sugiro a leitura). Tendo em mente tudo o que abordamos, principalmente o seu modo de existir e se relacionar, agora encaixaremos tais comportamentos na relação materna. Esta relação primal e primordial no desenvolvimento humano, nos dá material para nos formarmos. Seja mãe biológica ou não, a relação com a nossa cuidadora diz do nosso primeiro relacionamento e isso não tem importância gigantesca.
O modo como somos tratados, refletirá na maneira como nos vemos e assim, consequentemente, afetará o nosso envolvimento com qualquer outra pessoa (principalmente nós mesmos) e situações. Isso não se resume à infância, mas se estende até nossa vida adulta, até enquanto não olharmos atentamente e questionarmos nosso modo de existir. Ser cuidado de forma amável, respeitosa e compreensiva, nos gera capacidade de lidarmos assim com quem somos e com todos os outros indivíduos que iremos nos relacionar em nossas vidas. Por outro lado, a falta de cuidado, a relação abusiva, as agressões verbais e físicas, deixam marcas profundas psiquicamente e irão emergir com força nas dificuldades que encontraremos ao longo da vida.
A Mãe Narcisista não terá a capacidade do cuidado que realmente necessitamos, desde o nosso nascimento, até a fase adulta. Não terá a empatia necessária para que perceba e compreenda os sentimentos do outro e suas questões, sejam elas explícitas ou implícitas (quando criança). Autocentrada, a mãe narcisista estará preocupada com o seus próprios interesses e necessidades. Assim, de forma abusiva, cobrará do filho o que acha que este parece lhe dever, cobrará em forma de ameaças, agressões e chantagens, algo que não lhe compete. Dessa forma, desrespeitando direitos e espaços que dizem da construção da personalidade do indivíduo.
A instabilidade emocional e de humor, os valores infantis e inflexíveis, dão a certeza de que não se pode contar com ela como uma base de apoio para o desenvolvimento. Não há compreensão e estabilidade nesta relação, o que prejudica diretamente do desenvolvimento psíquico sadio.
Estamos falando aqui de uma relação abusiva que nasce junto com o indivíduo, ou seja, é esse tipo de relação que este entenderá como amor. Percebem a dimensão disso? Os familiares e amigos que estejam por perto, por vezes, não percebem a dimensão e gravidade da relação porque na maioria das situações a mãe é dessa forma apenas com 1 filho. A Narcisista em questão será narcisista em todas as suas relações, mas muitos considerarão seu comportamento como típico de sua personalidade. Dessa forma, o filho que receberá a carga psíquica do transtorno de sua mãe, crescerá entendendo que aquilo é normal e se ela lhe trata dessa forma, é porque de alguma maneira ele merece.
Assim, é fácil percebemos as graves consequências dessa relação na vida do filho. A insegurança, culpa, medo, entre tantas outras questões, brotarão em sua vida, desde muito cedo, e se tornará a forma que se enxerga no mundo.
Por conta de tamanha complexidade, dedicaremos o próximo texto para falarmos sobre o outro lado dessa relação, os filhos das mães narcisistas.
Até semana que vem!