Mulheres-mães protagonistas da própria história

Resiliência

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Por Naná Magalhães | @naianamagalhaes

“A vida em seus métodos diz calma…”, tenho isso como um mantra interno, algo que ajuda a manter o equilíbrio. Pode parecer desconexo, porém ando pensando muito sobre essa tal resiliência.

Substantivo feminino, olhando para seus significados, para física resiliência será algo que consegue retornar para sua forma original após passar por algum tipo de deformação elástica. No sentido figurado seria a capacidade de se recompor ou adaptar-se a má sorte ou mudança, a capacidade humana de seguir em frente de alguma forma diante as adversidades da vida.

Para quem pouco me conhece sabe o quanto resiliente já fui e ainda sou – não por escolha! Na verdade, não acredito que sejamos resilientes por escolha, e sim por sobrevivência. Porém, jamais como na física voltei à forma original. A cada adversidade que tive que lidar e me adaptar, mudou um pouquinho do que sou, porque me ensinou coisas diferentes sobre os ambientes, pessoas e sobre mim.

Trabalho em cozinha, e pense num lugar onde a resiliência é essencial, porque, por mais que o show da televisão te faça acreditar em glamour e borboletas na barriga, a realidade está distante disso. A cozinha, sim, apaixona e vira vício. É difícil explicar para as pessoas que, mesmo esgotados física e emocionalmente, dificilmente escolheríamos outra profissão. Porém, o que não pode ficar encoberto é que essa tal resiliência também traz um lado tóxico de termos que aguentar humilhações, falta de estrutura, salários que não pagam as contas, horas extras não pagas, gritos, fogo, pressão alta, e sim sobrevivemos a isso diariamente, sendo resilientes.

Já ouvi que um bom cozinheiro é aquele que mantém a calma. Isso quer dizer que é aquele que não surta mesmo sendo humilhado. Aquele que não abandona o turno mesmo ouvindo gritos, que segue o serviço à marcha.

O quanto dessa capacidade de ser resiliente vem aos poucos distorcendo uma visão do que seria normal. Muitos de nós acabamos construindo outros vícios e poucas horas de sono. Pergunte a um profissional de cozinha: ele está sempre cansado!

Não estou dizendo que todos os restaurantes são assim, porém muitos ainda são. Ainda optam por uma forma de gestão baseada na opressão, no morde-assopra, com alguns momentos bons e muitos ruins. E suportamos tudo isso pelo fato de precisarmos do salário – como todos precisam. Mesmo sem saber muito explicar é o que sabemos fazer, porque trabalhar com alimento, comida, sabores, é essencial à existência humana.

Estamos cansados de ter que ser resilientes num cenário que te oprime e pressiona, onde a conta nunca fecha. É preciso urgentemente entender que esse tipo de negócio é e sempre será sobre pessoas, funcionários e clientes. São eles que fazem os números existirem, não o contrário. Já passou do momento de repensar essa tal resiliência.

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