Mulheres-mães protagonistas da própria história

Reflexões de uma mãe-pesquisadora

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Por Elisiana Frizzoni | @elisfrizzoni 

“Desistir também é um ato de coragem” foi mais ou menos a frase que ouvi quando contei ter desistido de um concurso para o qual estava me preparando.  

Era o “concurso dos meus sonhos” em uma universidade maneira na Bahia, com uma vaga numa área de concentração que convergia muito meu mestrado e meu doutorado.  

Eu me organizei para fazer a prova, comecei a estudar com certo afinco. O concurso foi minha forma de voltar a estudar depois que terminei o doutorado. Fiquei felizona. Mas não consegui ir além. Uma ansiedade enorme me atrapalhou muito. Não consegui organizar meu currículo Lattes, preparar os pontos da prova e fazer outras coisas que julgava essenciais para ir tranquila. 

Foi uma mistura de dificuldades relacionadas à prova, à maternidade e à docência na escola pública. 
Por exemplo, os meus meninos gêmeos, com os seus 2 aninhos completos na época, ainda mamavam. Sabendo dos benefícios da amamentação prolongada pra saúde deles, me sinto orgulhosa de ir tão adiante com a amamentação (esse processo continua hoje).  

Foi algo muito controverso, principalmente quando me preparava para o concurso. 
Além disso, não consegui achar uma forma legal de me ausentar do trabalho por um longo período. Não existe nenhuma possibilidade de pedir afastamento para fazer um concurso público. Não posso tirar férias “do nada”. E a única possibilidade seria por meio de uma licença médica. Mesmo sem eu estar doente. 

Foi difícil desistir, chorei, me arrependi, criei possibilidades mil na cabeça. Mas as dificuldades foram maiores. 

Eu sei que dificuldades sempre vão existir e não posso transformá-las em desculpas. Não é essa a questão. No momento, foi o que eu pude fazer e prefiro ficar com a perspectiva de que desistir tenha sido o meu ato de coragem. 

Depois disso, me submeti a dois concursos de substituição em universidades públicas mais próximas, mas cada vez mais perco publicações pelo critério do tempo (o que escrevi antes de 2018 já não tem validade para concursos) e continuo com pouco tempo para escrever, pesquisar e buscar por meios de entrar nesse mundo tão cheio de barreiras maternais. 

Revisão: Gisele Sertão – @afagodemaeoficial 

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