Reencontro

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Por: Silvane Silveira Fernandes – @silvanesilfernandes 

Certa vez me vi sem mim, tinham passado décadas da minha existência onde o que mais importava era eu mesma, meus anseios e minha vida. E então a mágica aconteceu, agora era eu e meu filho, por alguma razão me sentia parte dele, seu choro, seu suspiro, suas necessidades e aos poucos fui deixando de ser eu. Por anos passei a ser apenas mãe, o que de certa forma era muito pesado, motivo que provavelmente era a causa do sumiço da minha existência.

As alegrias passaram a ser: as boas atitudes tomadas, o bom desempenho neste novo papel, o sucesso na criação de um filho, a manutenção da saúde do pequeno…Isso tudo tomava meus dias e minhas noites, por vezes não me reconhecia no espelho, mas continuava me fortificando na presteza e desempenho da maternidade para deixar a vaidade de lado e minhas urgências, até porque todas as mudanças no corpo e na mente favoreciam minha ausência. 

E assim segui, me desencontrando. Deixei de lado minhas necessidades e apenas vivia o dia a dia cultivando o crescimento da vida que surgiu dentro de mim e que neste momento crescia para o mundo. Por muito tempo as perspectivas e pensamentos eram focados nesta nova vida, atitude comum entre mães de todas as espécies: proteção e amor incondicional. Mas o deixar de lado a si mesmo é arriscado, pois quando acontecer o resgate do eu pode ser tarde ou pode ficar um vazio daquele período em que a mãe se desencontrou consigo mesma. 

Certa vez, a mulher voltou a existir, o esperado reencontro com sonhos, sentimentos, lembranças que ainda estavam lá em seu coração, em sua memória voltaram a ecoar, a existir, ainda com o coração cheio de amor e preocupações ela abriu espaço para si, para seus anseios e aspirações. E de forma poética esse reencontro aconteceu.

E então aos poucos o autocuidado e a vontade reapareceram e essa mulher agora não era somente uma, ela era mais de uma: era a criança que um dia foi, a adolescente cheia de sonhos, a jovem apaixonada a mulher forte e determinada, a filha amada, a profissional admirada, a mãe dedicada. Ela era mais do que antes, pois se enxergava de longe, com um olhar complacente sobre tudo que foi e que agora não é mais.

Neste momento ela precisava se reencontrar para começar uma nova fase, a borboleta que morava em sua alma estava na fase de voar, com grandes asas ela podia mais. Podia agora fazer escolhas, não apenas ser levada pelas circunstâncias e diante delas dar o seu melhor.

Ela queria ser ela mesma novamente, amar a si mesma e então a partir deste amor espalhar gentilezas e contemplar a própria vida carregando de forma leve todas as suas facetas, as várias faces do seu eu.

 

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