Mulheres-mães protagonistas da própria história

Quando você chegou – Por: Neila Corrêa

Quando você chegou – Por: Neila Corrêa

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Quando nos encontramos pela primeira vez, não houve palavra que pudesse resumir o que estávamos vivenciando. Então choramos. Você primeiro e eu porque não soube fazer outra coisa. Era um choro de felicidade e de medo. E eu quis lhe proteger. Para sempre. Desde o primeiro colo eu desejei cuidar de você. Mesmo nos dias mais difíceis, não cogitei não lhe acolher. E foi tudo tão inexplicável, com tantos sentimentos, que pensei que enlouqueceria.

Mas não. Ou sim, quem sabe. Foram incontáveis as vezes em que respirei fundo, em que achei que não conseguiria, em que quis dar um tempo. Mas também não imagino quantas vezes eu sorri, feliz, sendo você o motivo. E os dias foram passando, nem rápido nem devagar… E eu pedi para que o tempo não passasse quando estávamos abraçados. Também não notava o movimento dos ponteiros do relógio quando você não estava bem, e isso me angustiava. Sobre lhe carregar em mim, eu ainda não elaborei.

Porque foi tão bom, mas tão bom, que é inexprimível. Sentir você mexer indicando que uma outra vida vivia em mim, foi algo incomparável. Usei e uso apelidos para me referir a você (sim, você já foi vários animais), teve seu nome reduzido a um prefixo e/ou substituído por palavras afetuosas, enquanto você ri e tenta desesperadamente balbuciar alguma coisa qualquer pra dizer que está aqui, comigo. Mas e que sorriso! Como pode me dizer tanto apenas com este movimento? São muitas perguntas sem resposta. Talvez a resposta seja não responder, prontamente, porque não se trata disso.

A dúvida é pra fazer companhia nos momentos de solidão acompanhada. E tudo bem. Certeza mesmo é a de que não somos os mesmos porque fomos tocados. Lembro de quando planejava, e por vezes fantasiava, sobre o bebê que eu teria e sobre como me sairia desempenhando este importante papel.

Eu tinha nervoso de cuidar do umbigo. Eu não conseguia passar uma blusa pela cabeça. Eu tinha medo de machucar no banho. Eu tinha medo de ter medo e não saber o que fazer. Mas tudo isso passou quando eu me vi na maternidade. E eu fiz tudo isso e um pouco mais. Fiz coisas que nem sabia que teria que fazer e me orgulho de dizer que consegui sozinha. Hoje eu olho nos seus olhos e fico lamentando o fato de que vou me esquecer de detalhes… Justo eu que tenho péssima memória. Talvez não me lembre futuramente do som que você emite quando reclama, tão específico, e talvez não me lembre de que, no colo, não gosta de ficar deitado pois quer observar tudo ao redor.

Mas o importante eu não vou esquecer. Eu sei que não. Então eu finalmente percebi que na teoria eu sabia quase tudo e que a prática não correspondia. Tanto que prometi a mim mesma que não faria esta ou aquela coisa, e no momento seguinte deixei você dormir na mesma cama, por exemplo, e eu adorei ter podido ceder.

Mas entendi principalmente que, amando, tudo daria certo. Sempre darei o meu melhor a você que um dia me chamará de mamãe. E não vejo a hora de acompanhar cada passo do seu crescimento, estendendo minha mão. Só de pensar em tudo isso, emudeço novamente, como na primeira vez.

 

Autora:

Neila Corrêa: Maternidade Cotidiana

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