Quando me reencontrei

img 9851 michele toledo

Depois de viver um dos meus maiores sonhos, o de ser mãe, algo dentro de mim se desfez — e, ao mesmo tempo, renasceu. 

A vida tomou um novo nome – e com ele, um novo sentido. 

A maternidade me atravessou como um vendaval: levou partes de mim que eu acreditava eternas e me devolveu outras que eu jamais havia conhecido. 

A maternidade me moldou de tantas formas, que por vezes, deixei de me reconhecer. 

No começo, eu apenas cumpria papéis — mãe, esposa, mulher que se esconde atrás das rotinas. 

A solidão era uma visita constante, mas aprendi a deixá-la sentar-se comigo. E ela virou abrigo. Um espaço onde o eco da saudade encontrou morada dentro de mim. Em solo Nacional e Internacional. 

Foi ela quem me ensinou a escutar o som do meu próprio silêncio. 

Os dias se misturaram entre mamadeiras, choros e um amor que doía de tão imenso. 

Havia beleza e exaustão no mesmo gesto. 

Enquanto o mundo girava lá fora, dentro de mim tudo parava — como se o tempo esperasse eu me reconhecer na mulher que eu havia me tornado. 

Ser mãe é um milagre, um espelho partido. 

E curioso olhar no espelho e ver uma mulher diferente daquela que um dia fui. 

Cada fragmento reflete uma versão minha: a que cuida, a que cansa, a que chora escondida, a que insiste em permanecer inteira. 

No reflexo, percebi que a mulher que eu era não morreu — apenas se recolheu, à espera de espaço. 

Ha uma forca ali que antes não existia. 

E quando as crianças cresceram, quando o silêncio voltou a morar na casa, eu também voltei a me escutar. 

Algo que acreditei não ser possível por um longo tempo. 

Descobri que o amor por um filho não precisa ocupar todos os lugares. 

Que é possível amar profundamente e ainda assim desejar o reencontro com quem fui — e com quem ainda posso ser. 

A maternidade me ensinou que perder-se é parte do caminho, ele e longo, solitario, muitas vezes sombrio do qual tentei fugir. 

Não existe retorno, apenas transformação. 

Essa nova versão de mim e feita de cicatrizes e luz. 

Aprendeu que não precisa ser tudo ao mesmo tempo. 

Ser mulher e ser mãe é viver num constante nascer — e morrer — de versões. 

Cada ciclo me deixa mais nua diante de mim mesma. 

Hoje, quando me olho no espelho, vejo todas as minhas metades sentadas lado a lado: 

a menina que sonhava, 

a mulher que buscava, 

a mãe que se doou até o limite. 

E eu as acolho. 

Porque agora entendo que não preciso escolher entre ser mãe ou ser mulher. 

Eu sou o espaço onde as duas se encontram — e dançam. 

Por Michele Toledo – @michele_t5

Deixe um comentário

Rolar para cima
0

Subtotal