Depois de viver um dos meus maiores sonhos, o de ser mãe, algo dentro de mim se desfez — e, ao mesmo tempo, renasceu.
A vida tomou um novo nome – e com ele, um novo sentido.
A maternidade me atravessou como um vendaval: levou partes de mim que eu acreditava eternas e me devolveu outras que eu jamais havia conhecido.
A maternidade me moldou de tantas formas, que por vezes, deixei de me reconhecer.
No começo, eu apenas cumpria papéis — mãe, esposa, mulher que se esconde atrás das rotinas.
A solidão era uma visita constante, mas aprendi a deixá-la sentar-se comigo. E ela virou abrigo. Um espaço onde o eco da saudade encontrou morada dentro de mim. Em solo Nacional e Internacional.
Foi ela quem me ensinou a escutar o som do meu próprio silêncio.
Os dias se misturaram entre mamadeiras, choros e um amor que doía de tão imenso.
Havia beleza e exaustão no mesmo gesto.
Enquanto o mundo girava lá fora, dentro de mim tudo parava — como se o tempo esperasse eu me reconhecer na mulher que eu havia me tornado.
Ser mãe é um milagre, um espelho partido.
E curioso olhar no espelho e ver uma mulher diferente daquela que um dia fui.
Cada fragmento reflete uma versão minha: a que cuida, a que cansa, a que chora escondida, a que insiste em permanecer inteira.
No reflexo, percebi que a mulher que eu era não morreu — apenas se recolheu, à espera de espaço.
Ha uma forca ali que antes não existia.
E quando as crianças cresceram, quando o silêncio voltou a morar na casa, eu também voltei a me escutar.
Algo que acreditei não ser possível por um longo tempo.
Descobri que o amor por um filho não precisa ocupar todos os lugares.
Que é possível amar profundamente e ainda assim desejar o reencontro com quem fui — e com quem ainda posso ser.
A maternidade me ensinou que perder-se é parte do caminho, ele e longo, solitario, muitas vezes sombrio do qual tentei fugir.
Não existe retorno, apenas transformação.
Essa nova versão de mim e feita de cicatrizes e luz.
Aprendeu que não precisa ser tudo ao mesmo tempo.
Ser mulher e ser mãe é viver num constante nascer — e morrer — de versões.
Cada ciclo me deixa mais nua diante de mim mesma.
Hoje, quando me olho no espelho, vejo todas as minhas metades sentadas lado a lado:
a menina que sonhava,
a mulher que buscava,
a mãe que se doou até o limite.
E eu as acolho.
Porque agora entendo que não preciso escolher entre ser mãe ou ser mulher.
Eu sou o espaço onde as duas se encontram — e dançam.
Por Michele Toledo – @michele_t5




