Quando maternar é um verbo

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Dia desses uma pergunta me fez acionar o “gatilho” sobre o meu puerpério. Os gatilhos mentais ou emocionais são uma espécie de “disparo de traumas”, alguma coisa que nos faz lembrar de algo que não foi bom, sentimentos e sensações muito desagradáveis de algum momento que passamos. 

A pergunta era apenas, se eu só “maternava”. Essa pergunta, obviamente sem a intenção de machucar, pela curiosidade de como era minha rotina com meu filho autista, desencadeou a vivência de um período traumático.  

Eu fiquei pensando que, o mais perto que eu estava de só “maternar” – se é que isso é possível diante das demandas – foi no período puerperal. 

É aqui que ficamos na quarentena, “dieta” como chamam muitos, com a recuperação do parto, as descobertas que os livros não ensinam e toda a adaptação e paciência que nós, mães, precisamos com nossas crias.  

Este foi o período da dor mais latente da minha alma. 

Talvez porque eu tivesse ao meu lado a pessoa que menos deveria estar ao meu lado, uma pessoa abusiva que anulava os meus sentimentos e estava ali apenas para criticar quaisquer facetas das minhas decisões em relação ao acolhimento, ao afeto infinito e merecedor de um ser recém chegado a este mundo tão duro.

Reclamar de choros, usurpar minhas potencialidades, negar minha dor com os seios empedrados e os bicos rachados e me fazer sentir a mulher mais impotente, insegura e incompetente do planeta. Relações abusivas são reais.  

Doeu. E gostaria de ter tido a chance de ser forte naquele momento, ter tido uma rede de apoio intensa e de ter conhecido mulheres que me trouxeram luz e me ensinaram a levantar tempos depois. 

Por isso acredito que temos que ser alimento para as que vem. Experiências ensinam, não necessariamente gostaríamos de tê-las tido, mas elas ensinam. 

Gosto de me curar – ou pelo menos tentar – e esses momentos eu estou trocando pelo que aconteceu de bom, as minhas grandes ações ao “só maternar”, pela fortaleza e coragem de ter sido uma mulher que lutou, cresceu, doou seu corpo, seu tempo, seus pensamentos, sua história, e também a intensidade dos seus sentimentos. 

E claro, com esse coração fora do peito, cujo amor não se conjuga. O afeto salva, sempre!


Texto: Silvia Colodel – Instagram: @silviacolodel.

Revisado por Cristiane Araújo.

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