Um segredo, valorize as mães, só elas sabem o sacrifício que fazem para ser melhor do que já são.
Não é novidade para ninguém que todo ser humano nasceu de uma mulher e que toda mulher que gerou uma vida teve seus altos e baixos durante a gestação. Ou estou mentindo?
Ser uma profissional gestante está longe de ser simples, ser fácil e, eu diria, até ser normal. Um turbilhão de sentimentos e sensações começam logo no momento em que lemos no teste o famoso: POSITIVO.
Minha vida inteira ouvi a frase: “Gravidez não é doença”; sendo as palavras prediletas de quem não está na pele das gestantes que lidam com sintomas desagradáveis.
Obviamente que gravidez está longe de ser uma patologia, mas o redemoinho de sentimentos e sensações são bem reais e apesar de tudo o que sentimos, devemos continuar a ser guerreiras, profissionais com excelência, donas de casa, parceiras, mães e simplesmente, a gente mesmo. Afinal, se deixarmos quem somos de lado, não somos nada.
Descobri a minha gestação, que foi uma surpresa, faz poucos meses e já posso dizer: Valorize todas as gestantes profissionais da sua empresa, pois você não tem ideia do que passamos para estarmos aqui, todos os dias, produtivas e posso dizer, felizes.
Onde tudo começa
Tudo começa no momento que temos que contar para a empresa que estamos gestantes. Um misto de sentimento de medo, insegurança e ansiedade e a única frase que vem em nossa mente é: “ E agora?” – seguido por: “ Como será depois que o bebê nascer?”
A gente se prepara, ensaia e vamos: Falamos!
Muitas empresas encaram bem, muitos líderes comemoram – As minhas líderes gritaram e pularam – literalmente- de felicidade – Outros líderes só prezam em pensar em si mesmos, em seu déficit de 4 meses ao nascer do bebê e nas consultas obrigatórias (e de direito) da gestante e esquecem que ali reside um ser humano e, mais que isto, que eles mesmos vieram de uma mulher que passou por isto. Que graças a elas, eles estão hoje ali, vivos.
Quando somos bem recepcionadas, um respiro fundo vem da alma, de calma e tranquilidade. Quando a resposta é contrária: o medo, a ansiedade aumentam e os próximos meses serão terríveis, sim, terríveis. Afinal, a incerteza tomou conta e nada saberemos como será em nosso retorno da licença-maternidade.
Turbilhão de sentimentos nos primeiros meses
Agora começam os sintomas clássicos: Enjoos, vômitos, tonturas, falta de apetite, humores oscilantes, dores no corpo e um cansaço infinito.
Em meio a uma reunião, o enjoo vem e a gente disfarça, acordamos todas as manhãs mal, mas temos que pegar ônibus, trem, metrô ou trânsito. Estamos lá.
Você costuma guardar segredo nestas primeiras semanas e só as pessoas mais próximas sabem, então quem não sabe te julga como: Está diferente, triste, estranha, chata ou até, desmotivada.
Nossa vontade é apenas de gritar: ESTOU GESTANTE, TEM UM BEBÊ DENTRO DE MIM! Mas não o fazemos e continuamos tentando disfarçar o máximo que podemos, afinal, ninguém tem culpa do que estamos passando e não adianta esperar compreensão, ela pode vir ou não.
As consultas sem fim
Chegaram as horas das consultas e benditas somos por ter o privilégio de ter um plano de saúde e condições de nos consultar, pois muitas gestantes por aí, nem isto tem. Mas isto falamos em outro artigo.
Consultas sem fim no início. É pré-natal, ultrassom transvaginal, exames de sangue, exames de urina…são só alguns deles. Precisamos agendar e todas as agendas são quando? No horário de trabalho!
Ligamos nos planos, tentamos negociar os melhores horários e a vergonha vem: “Chefe, só tinha obstetra 14h – só tinha ultrassom às 10h.”
Claro que seu chefe nunca vai negar, é seu direito, mas e a “negação social”? Muitos chefes apoiam e te incentivam a cuidar de ti e do bebê, mas existem sim – não é meu caso – aqueles que não nega com palavras, mas negam com o olhar e ali começam as exclusões profissionais, pois os chefes pensam que não podem contar contigo SÓ POR QUE VOCÊ PRECISA IR EM CONSULTAS, mas se esquecem das noites a fio em que você ficou trabalhando, os finais de semana e todo momento em que precisaram quando você não estava gestante. But, cada cabeça uma sentença, sou sortuda por ter líderes compreensivas e digo mais, até mães e sabem tudo o que preciso consultar e cuidar.
Os novos sintomas aparecem
Sono, sono, sono e mais sono. Um sono sem fim, ao ponto de parecer que estamos dopadas. Os enjoos melhoram, os vômitos também, mas o sono chega como um furacão e toma conta dos nossos dias, a única coisa que queríamos é dormir.
Mas temos relatórios para entregar, metas para bater e precisamos esquecer deste sono e seguir em frente. Nossa cara não esconde o cansaço, mas seguimos disfarçando ou pelo menos, tentando.
A peteca não pode cair, é só uma fase, vai passar e precisamos mostrar aos nosso chefes que ainda somos aquela profissional excelente, só estamos neste momento gerando uma vida e precisamos de compreensão: Calma chefe, vai melhorar.
E muito mais…
Mais consultas, ultrassom morfológico, exames, vacinas e mais pré-natal. Do 4° ao 6° mês a gente volta a ser um pouco normal, mas a autoestima nem sempre está aquela coisa. As roupas de trabalho já não servem e os sapatinhos estão cada vez mais apertados, as dores no corpo intensificam após o 6° mês e o cansaço vem junto, afinal tem uma criança na sua barriga, Deus do céu.
Os seios dobraram de tamanho, o rosto também, já não nos sentimos tão bonitas assim, mas vai passar.
É neste momento em que precisamos mostrar a profissional que somos, afinal as pessoas esquecem o que fomos e só lembram o que somos/estamos e queremos mostrar que somos boas, insubstituíveis e fundamentais na equipe…mas estamos tão cansadas para isto.
Ainda andamos de trem, ônibus, metrô ou pegamos trânsito e estamos no nosso posto de trabalho, do início ao fim, mas não estamos bem. Estamos com calor, inchaço, dor.
Sono? Já não sabemos mais como é dormir uma noite toda, afinal, são 8 xixis por noite. Mas 08h da manhã estamos trabalhando, entregando, cumprindo meta.
Já não pensamos em promoção, afinal, poucas empresas promovem grávidas, poucas empresas transformam grávidas em CEO como vimos nas semanas passadas pelo Linkedin. Mas quer saber? Não estamos esperando, só queremos ter nosso lugar quando voltarmos, nosso trabalho, nosso emprego e compreensão, somos as melhores profissionais e vamos continuar a sendo, ou mais, quando voltarmos. Só pedimos: Humanidade e respeito.
P.S Valorize as profissionais gestantes, só elas sabem os sacrifícios que fazem para ser melhor do que já são.
Autora: Talitha Souza é Profissional de Marketing com carreira em grande desenvolvimento em Marketing de Produtos de bens de consumo.
Texto publicado originalmente no LinkedIn. Repostagem autorizada pela autora.