Quando minha segunda filha nasceu, passamos 40 dias juntos, nós quatro, em nossa casa. Mãe, pai, bebê e criança. Dividimos o trabalho, cuidados e responsabilidades das nossas filhas e do nosso lar. Conversamos, brigamos, planejamos passeios, atividades e tarefas. Organizamos a casa, dividimos expectativas e angústias sobre a nossa nova configuração. Não foi fácil, mas a nova fase começou em paz. Minha mais velha estreitou o vínculo com o pai, e a presença dele 24h por dia provavelmente evitou que a chegada da irmã fosse pesada para todos da família.
Além do apoio emocional, que nesse momento é essencial, tive apoio com a rotina doméstica, o que possibilitou minha total entrega a nossa nova bebê, que como todo recém-nascido, precisa de cuidado e atenção o tempo todo.
Quando um pai fica em casa, ele se envolve nas necessidades do bebê e da criança, e cria mecanismos próprios para ninar, acalmar, brincar ou enfrentar algum tipo de dificuldade. É preciso estar junto para conhecer seu filho, para fortalecer a relação, para criar segurança, confiança, intimidade e formar o fio afetivo entre pai e filho.
Licença paternidade de 5 dias é uma piada. É o que garante a constituição, 5 dias. Como um pai e um bebê se conhecem em apenas 5 dias? Como esse pai, apoia uma mãe e dá condições para que ela se recupere do nascimento, se adapte a amamentação, as noites em claros, em apenas 5 dias? Não dá. Essa mãe precisará recorrer a vizinhos, babás e parentes próximos. E esse pai se distanciará cada vez mais de seu filho e das demandas de seu lar.
O benefício de ampliar a licença paternidade não é só para o pai e o bebê, mas para a saúde da mãe. Pesquisa publicada em Stanford (EUA) em 2019 confirma que o aumento da licença-paternidade reduz o consumo de antibióticos e ansiolíticos pelas mães no pós-parto. A licença paternidade também é um direito da mãe.
Precisamos exigir uma licença paternidade de verdade, que atenda as reais necessidades de uma família.
Precisamos sonhar e lutar pela ampliação da licença paternidade para que, um dia, ela seja como a da mulher. Isso pode possibilitar igualdade no mercado de trabalho, e principalmente oferece ao pai a oportunidade de conhecer e conviver com seus filhos enquanto são tão pequeninos e precisam mais do que em qualquer outra fase da presença, do amor e da segurança dele.
Autora: Jessica Marzo – @jemarzo
Revisão: @lougandini