Os pais que me desculpem

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A melhor notícia que recebi foi a da vacinação dos professores da educação infantil privada. Depois de 15 meses longe da escola, minha filha finalmente poderá retornar sem que meu coração fique apertado. Ok, um pouco apertado ele vai ficar, pois sabemos que a pandemia não acabou. Muito pelo contrário: a situação segue triste e difícil. Mas não podemos deixar de comemorar cada pequena conquista. 

Quando a Antonia retornar à escola, minha vida pode ensaiar um gradativo retorno à normalidade. A profissional, a bailarina, a praticante de Pilates, que passaram 15 meses dentro de uma caverna, podem começar a colocar a cabeça pra fora. A luz do sol vai machucar os olhos em um primeiro momento. Mas a mãe em tempo integral será obrigada a dar espaço para essas outras presenças. Foram aproximadamente 430 dias sendo somente mãe.   

Por falar nisso, segundo pesquisa realizada pela ONG Gênero e Número, em parceria com a Sempreviva Organização Feminista ano passado, metade das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia. As mulheres foram (e ainda estão sendo) as mais sobrecarregadas neste período de isolamento social. O estudo indica que a realidade não é a mesma para todas. Nos ambientes rurais, 62% das entrevistadas afirmaram que passaram a exercer tarefas de cuidado.  

A possibilidade de manter o distanciamento social, por meio do trabalho remoto e sem grandes alterações na renda familiar, é privilégio de poucos, deixando em evidência a forma desigual com que a pandemia atinge a população. A necessidade do isolamento para conter a disseminação do vírus contribuiu para o distanciamento das mulheres de suas redes de apoio. As escolas fechadas, a ausência de funcionários em casa, suporte nas aulas online dos filhos, realização de tarefas escolares, atividades domésticas e trabalho remoto pesaram nos ombros das mães.    

Considerando as mulheres que podem manter suas atividades profissionais de forma remota, o modo repentino como a exigência do home office ocorreu trouxe muitas  dificuldades. As famílias precisaram adequar espaços privativos para trabalho e estudo, pressionadas pela produtividade a qualquer custo. A pesquisa da ONG Gênero e Número e da Sempreviva Organização Feminista, citada anteriormente, afirma que, entre as 2.641 mulheres entrevistadas, 47% afirmaram ser responsáveis pelo cuidado de outra pessoa: 57% são responsáveis por filhos de até 12 anos, 6,4% afirmaram ser responsáveis por outras crianças, 27% afirmaram ser responsáveis por idosos e 3,5% por pessoas com alguma deficiência.

Então, os pais que me desculpem, mas as mulheres são as heroínas dessa pandemia. Principalmente as mulheres mães, as mulheres cuidadoras. Quantos pais acompanharam uma aula online dos filhos? Quantos pais fizeram atividade escolar em casa? Participei de diversas reuniões online com diretoras e professoras da escola e Antonia e adivinhem? Em 99% delas só haviam mães. Por quê?

Que todos esses dados nos façam pensar, refletir e aprender.


Autora: Teté Furtado é mãe da Antonia, de 4 anos. É também publicitária, Especialista em Dança, Mestre em Artes Cênicas, bailarina de Dança Contemporânea e gerencia o site Dicas Arteiras. Redes Sociais: @furtadott / @dicasarteiras

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